sábado, 22 de maio de 2010

Carta revela: Obama apoiou Lula no Irã - Por José Dirceu


Publicado em 22-Mai-2010


Vejam que surpreendente descobre-se agora: menos de duas semanas antes de ser fechado o acordo nuclear Brasil-Turquia-Irã, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama afirmou em carta ao presidente Lula que o acerto da troca de combustível nuclear com Teerã criaria confiança no mundo. É, gente, é esse mesmo acordo que um dia após ser concluído e sacramentado pelos presidentes do Brasil e do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, mais o chefe do governo da Turquia, premiê Recep Tayyip Erdogan, os EUA passaram a receber com ceticismo e a bombardear.

A ponto de apresentar a resolução no Conselho de Segurança da ONU, mantê-la e batalhar por sua aprovação e a fazer ouvidos moucos aos pedidos brasileiros para que respeitem os termos do entendimento. A agência Reuters recebeu trechos da carta enviada por Obama a Lula há 15 dias e na esteira dela as demais agências de notícias e toda a mídia divulgaram o documento.

As perguntas que se deve fazer, então, são: por que Obama mudou de posição tão rapidamente? Apostava no fracasso do presidente Lula, estava sendo informado pelos tucanos e seus diplomatas? Não aceita um novo ator e parceiro no tabuleiro da política internacional? Ou finalmente passa recibo - ainda que indiretamente - e quer aplicar sanções para inviabilizar o desenvolvimento do Irã e sua transformação na única potência média na região e no Oriente Médio, numa força de contenção ao expansionismo sionista?

Interesses de Israel na origem das pressões e sanções

Sim, porque está claro, há muito, que Israel - cujos interesses estão na origem de todo esse processo de pressões e sanções contra o Irã - não tem, ou não tinha como objetivo impedir que Teerã desenvolva a tecnologia de enriquecimento de urânio, mas sim desestabilizar, bloquear e aplicar punições ao país dos aiatolás para inviabilizar seu desenvolvimento e transformação na única potência média daquela região.

E a pergunta final que devemos fazer é: por que não negociar com o Irã e fazer um acordo amplo que inclua a questão do Iraque e dos palestinos para evitar as sanções e a guerra, ou a invasão do Irã, ou mesmo a destruição de suas plantas de enriquecimento de urânio, já que a própria Turquia também está disposta a participar das negociações ?

No mais, deixo para vocês trechos da carta do chefe do Estado americano ao brasileiro para a conclusão óbvia: 15 dias antes o fechamento do acordo Brasil-Turquia-Irã era incentivado pelo comandante do Império. "Do nosso ponto de vista, uma decisão do Irã de enviar 1.200 quilos de urânio de baixo enriquecimento para fora do país geraria confiança e diminuiria as tensões regionais por meio da redução do estoque iraniano" de urânio levemente enriquecido, diz Obama em sua carta.

"Nós observamos o Irã dar sinais de flexibilidade ao senhor e a outros, mas, formalmente, reiterar uma posição inaceitável pelos canais oficiais da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica). O Irã continua a rejeitar a proposta da AIEA e insiste em reter seu urânio de baixo enriquecimento em seu próprio território até a entrega do combustível nuclear", descreveu Obama. O acordo conquistado pelo presidente Lula é exatamente em cima da "proposta da AIEA".

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