domingo, 20 de junho de 2010

Presidente do PT destaca a construção de uma ampla aliança em torno de Dilma


O presidente do PT, José Eduardo Dutra, destacou em entrevista concedida ao site Vermelho a ampla aliança de partidos, o programa da candidata Dilma Rousseff e o sucesso do Governo Lula como fortes motivos para se ter um "otimismo nacional" com relação à campanha eleitoral de 2010. Dutra, porém, reafirmou que não será uma campanha fácil.

Leia a íntegra da entrevista:

Vermelho - A partir das convenções, o que muda na campanha eleitoral?

José Eduardo Dutra – Agora, passado o período das convenções - e é bom ressaltar que nós conseguimos construir uma aliança bem ampla em torno da Dilma, coisa que muitos não acreditavam que fossemos capazes, de construir uma aliança incluindo PT, PMDB, PDT, PSB, PCdoB, PR, PRB..., e a aliança consolidada a nível nacional, estamos buscando nos estados construir palanques semelhantes. Sabemos que isso não é fácil porque a realidade política do Brasil tem disparidades regionais. Há estados onde teremos mais de um palanque. Nesta fase inicial não podemos fazer carreata, passeata, comício, todos os eventos têm que ser em local fechado. A partir do dia 5 de julho, vamos fazer campanha que vai combinar eventos de massa, os tradicionais comícios, e encontros com setores organizados da sociedade. Até porque nós sabemos o que diferencia nossa campanha da deles é a nossa capacidade de agregar os movimentos populares, sindical, trabalhadores etc. E vamos continuar investindo no acesso da Dilma às mídias regionais, pois a Dilma é menos conhecida e quanto mais a população a identifica com o governo do presidente Lula, mais ela cresce nas pesquisas.

O PT desistiu da idéia de arregimentar milhares de internautas para ajudar na campanha, como havia planejado fazer há alguns meses?

Esse é um movimento em paralelo que já está ocorrendo. Estamos construindo uma rede de internautas. Temos pessoas que estão dedicadas exclusivamente a isso, percorrendo o Brasil, fazendo plenárias não só com petistas, mas com militantes de outros Partidos.

E como será utilizada a ferramenta da Internet na campanha?

A Internet é um meio que cada vez passa a ter mais importância na disputa política na sociedade, primeiro por que não existem limitações naturais e até legais que são impostas aos outros meios de comunicação. Vamos ampliar a participação dos militantes e vamos inclusive trabalhar, já que legislação permite isso, para arrecadação de recursos. Não temos a ilusão de conseguir o mesmo êxito do Obama, nos Estados Unido, mas é hora de iniciarmos a utilização desse espaço também para arrecadar fundos.

O PT acha que até o final de junho algum outro partido, além dos que já anunciaram apoio, irá aderir à campanha de Dilma?

Existem partidos menores como o PTN, o PTC, e, dos partidos médios, ainda existe uma indefinição com relação ao PP. Existe especulação na mídia de que o PP podia se coligar ao PSDB, mas o senador Dornelles, que é o presidente do PP, negou categoricamente. E nos garantiu que em hipótese alguma vai coligar com o PSDB. O que existe é a possibilidade de eles ficarem neutro e se isso acontecer a maior parte da base do PP vai nos apoiar; e nós estamos trabalhando ainda com a hipótese de que eles venham a participar formalmente da nossa coligação.

Como o PT está se preparando para o que chamam de “campanha suja” que já se manifestou nos casos recentes de denúncias de elaboração de dossiês?

Nós queremos fazer uma campanha propositiva, de debate de ideias, até porque nós respeitamos o povo brasileiro que, nesse momento importante da história, não quer saber de baixaria, de intrigas, de ataques entre candidatos. O povo quer saber quais as propostas para melhorar a vida do Brasil, do estudante, da dona de casa, do trabalhador rural, do aposentado, do empresário. Nós temos buscado trabalhar nesse sentido. Nós tivemos dois episódios recentes que já demonstram como nós vamos nos comportar. Uma acusação muito séria do candidato adversário de que Dilma foi responsável pela fabricação de um suposto dossiê e nós tomamos o caminho civilizado no estado de direito. Nós interpelamos o candidato na Justiça, para que ele se manifeste confirmando ou não as suas declarações. O Jornal Folha de São Paulo dá em manchete que o PT estaria por trás da construção de um dossiê e teria sido responsável pela quebra do sigilo fiscal do dirigente do PSDB, Eduardo Jorge. Nós repudiamos veementemente essas acusações. Sempre dissemos que, em momento algum, orientamos, encomendamos, autorizamos, ordenamos ou tomamos conhecimento de matéria dessa natureza e também fizemos representação junto à Polícia Federal para apurar se houve quebra de sigilo do Eduardo Jorge e, se houve, quem é responsável por isso. Não vamos adotar o mesmo tipo de ataque. A oposição está buscando esse caminho porque não tem projeto. Passou oito anos dizendo que o Governo Lula é uma porcaria, chocando-se com a realidade, com a percepção do povo sobre o governo. Na campanha ensaiou mudança de discurso, que o Lula é bom, mas precisa melhorar. Eles adotam uma postura ciclotímica, que diz que o governo Lula é bom, mas depois critica o governo, o que demonstra falta de projeto. Criticam o governo, mas não dizem o que querem colocar no lugar.

Qual a participação dos partidos aliados na elaboração do programa, considerando que a candidatura Dilma abrange um largo espectro de legendas, que vão do centro à esquerda?

Nós temos claro que o programa de governo da candidata Dilma não pode ser do PT, do PMDB, do PSB ou do PCdoB individualmente. Ela é filiada ao PT, mas não é candidata do PT. A partir do momento que as convenções partidárias aprovam o nome dela, ela passa a ser candidata de uma coalizão de partidos e, portanto, o programa de governo tem que refletir o que pensa essa coalizão. Quanto o PT fez o seu congresso nacional e apresentou o nome da Dilma, o PT tirou as diretrizes que devem nortear a construção do programa. Ao mesmo tempo o PMDB entregou um documento. O PCdoB ontem, na sua convenção, aprovou um documento. O mesmo vale para o PSB, o PR etc. Então, nós vamos ter agora uma comissão formada por representantes dos diversos partidos que vai fazer uma sistematização do programa de governo da Dilma, que será uma média desses diversos programas. Pelo que eu já vi das propostas apresentadas pelos diversos partidos, não há grandes diferenças entre os programas, não há antagonismos. E isso era previsível, porque todos eles partem de uma base concreta e real que é o que foi implementado pelos governos de Lula. Aquilo que for divergente quem vai arbitrar é a candidata. É ela quem vai apresentar e defender o programa para o povo. O importante é que fique claro que essa coalizão não é feita em bases fisiológicas, é feita com base em um programa de governo discutido conjuntamente por todos os partidos.

Como será feita a apresentação do programa ao eleitorado?

O slogan a campanha é “Para o Brasil seguir mudando”. É um projeto de continuidade e de mudanças, tendo claro que o Brasil iniciou mudanças em 2002, mas que não foram concluídas, o que exige processo de mudança. O Brasil tem hoje uma situação profundamente diferente da que tinha em 2002, em todos os setores, na economia, na infraestrutura, na autoestima do povo, na respeitabilidade que o País tem diante da comunidade internacional, com inserção e influência nas políticas internacionais. Essa é a base do nosso discurso para o povo. E é fácil porque nós temos um governo avaliado como ótimo/bom por 77% da população. Repetindo o bordão do Lula, nunca antes na história desse país nós tivemos um governo que chegasse ao oitavo ano com essa avaliação. Desde que se implantou a reeleição no Brasil, era dito como verdade absoluta que todo segundo governo era pior que o primeiro. No caso do Lula, foi o contrário, mesmo porque, como o primeiro foi para arrumar a casa, é natural não poder implementar sua política; o segundo foi melhor que o primeiro e a expectativa é que o terceiro mandato desse projeto seja melhor que o segundo, porque o partido já tem uma base que está em movimento, você tem condições de avançar mais ainda.

Qual a avaliação que o Sr. faz do resultado das últimas pesquisas eleitorais em que os dois candidatos – Dilma e Serra – aparecem empatados?

Eu sempre digo que pesquisa não se comemora nem se lamenta. Pesquisa é foto do momento, mais importante é você avaliar o conjunto da pesquisa dos diversos institutos e a evolução ao longo do tempo. E essa evolução mostra crescimento da Dilma e que o Serra bateu no teto e está caindo. Mostra que quanto mais a Dilma é conhecida e identificada com projeto que está dando certo, ela cresce. Pesquisas internas que nós fizemos já mostram a Dilma em torno de cinco pontos à frente e com potencial de crescer. Hoje, quando é perguntado quem é o candidato do Lula, 74% respondem certo que é a Dilma, portanto 26% ainda não fazem essa ligação. E mais importante é que na intenção de voto, dentro dos 74%, a Dilma está 19% a frente do Serra. Mas esses são números que mostram uma tendência, que não podem ser extrapolados para o dia da eleição. Ainda tem uma campanha eleitoral no meio. Não podemos subir no salto alto, vai ser uma campanha difícil, o adversário tem instrumentos e aliados poderosos, particularmente na grande imprensa brasileira, que nós não podemos subestimar. Eu sou otimista racional.

Como serão resolvidas as questões regionais que têm provocado grandes polêmicas e até casos graves como o da greve de fome dos petistas do Maranhão contrários à intervenção nacional nas decisões estaduais?

A aliança com o PMDB é considerada aliança estratégica, porque o PMDB é um grande partido brasileiro, tem capilaridade, muitos prefeitos, além do tempo de televisão, o que é muito importante, principalmente quando você é governo, porque a oposição só bate, mas governo tem que mostrar aquilo que fez. Nós consideramos estratégica e trabalhamos no sentido de garantir a aliança com o PMDB. Isso obrigou PT a entender que nós tínhamos que superar a fase de lançar candidatos em todos os estados. A história mostrou que lançar mais candidatos não significa eleger mais candidatos. O PT vai lançar 11 candidatos em todo país. Em comparação com outras eleições, houve uma redução significativa. Não significa que vamos eleger menos candidatos porque os nossos candidatos são mais competitivos. Na eleição passada, lançamos 20 e elegemos cinco e nessa eleição estamos lançando 11 e temos chances de eleger mais de cinco. E trabalhamos no sentido de que candidatos de outros partidos mais competitivos do que os nossos devem ter o nosso apoio. É o caso do Piauí. Nós governávamos o estado e estamos apoiando o nome do PSB. Com relação ao PMDB, não havia ilusão de que podia unificar o PT e PMDB em alguns estados. Em Pernambuco, o PMDB é liderado pelo senador Jarbas Vasconcelos que é uma das principais lideranças de oposição no Senado. No RS, nós temos uma disputa histórica do PT com o PMDB, mas já temos compromisso do PMDB do Rio Grande do Sul de que eles não apoiarão o Serra.

Os dois palanques irão para Dilma?

Não há definição de que o palanque do Fogaça será da Dilma ou não. Já temos garantido que não será pro Serra, o que é um avanço significativo. Uma coisa é a idealização da realidade outra coisa é a realidade. São problemas localizados, conseguimos construir a aliança nacional que era nosso objetivo.

O Sr. não fez referência ao caso do Maranhão. Eu gostaria de saber como o Partido vai resolver essa questão que ganhou repercussão com a greve de fome do deputado Domingos Dutra? O Manoel da Conceição suspendeu hoje a greve de fome.

Historicamente, o PT do Maranhão é um partido dividido. Não é fato que o Diretório Nacional tomou posição contra o PT do Maranhão. O que há de fato é um partido absolutamente dividido, em que o encontro estadual deliberou o apoio a Flávio Dino por dois votos e o diretório estadual deliberou por maioria também participar do governo da Roseana Sarney. São duas posições antagônicas. O Diretório Nacional teve toda legitimidade para tomar a posição que tomou, mesmo porque foi respaldado pelo Congresso Nacional do PT, que decidiu que o Diretório Nacional deliberaria sobre a posição do Maranhão. Mas sem qualquer ilusão de que vamos unificar o Partido no Maranhão. Nós sabemos que aquelas pessoas que defendiam o apoio ao Flávio Dino, vão continuar defendendo o Flávio Dino. Na eleição para prefeito, o PT se coligou com o PCdoB, apoiou o Flávio Dino, e o Domingos Dutra apoiou o João Castelo, do PSDB, numa demonstração clara de que no Maranhão não há, de um lado guardiões da ética e, do outro, os que querem solapar essa ética. O deputado Domingos Dutra é useiro e vezeiro em não respeitar a posição do PT do Maranhão. O que não significa que a candidata Dilma não reconheça que a candidatura de Flávio Dino também seja palanque dela. Eu, ontem, na convenção nacional do PCdoB, deixei isso claro, a partir do momento que a gente fechar as coligações todas, o conselho político que já existe, formado por representantes de todos os partidos políticos, vai se debruçar sobre o mapa do Brasil e a posição que o PT vai levar e eu como coordenador da campanha vou levar é que a Dilma tem que considerar como palanque dela todos os palanques dos estados que se propuserem a defendê-la, independente do PT estar no palanque ou não. Mesmo porque, existe exemplo de vários outros estados. No RJ, o PT está coligado com o PMDB, mas tem o palanque do Garotinho que vai apoiar a Dilma. Na Bahia, o PT tem candidato e o PMDB tem outro e a candidatura da Dilma vai ser apoiada pelos dois...

Então a posição da Executiva Nacional no Maranhão será mantida?

Será mantida. É uma posição irreversível, o PT vai se coligar com o PMDB. Mas você não pode confundir posição do PT com a decisão da candidata.

O Sr. é o coordenador da campanha?

O Pimentel e o Palloci também participam da coordenação, mas essa coordenação era natural que fosse só do PT na pré-candidatura. Embora a gente já tenha o conselho político, a partir das convenções e campanha, nós vamos ter que incorporar representantes dos outros partidos, mas eu vou ser o coordenador, já inclusive por decisão da candidata.

Site Vermelho www.vermelho.org.br

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