sábado, 21 de agosto de 2010

A autorregulação da mídia

Da Folha

Criação de conselho de autorregulamentação tem apoio de grupos de mídia

DO RIO

A criação do conselho de autorregulamentação dos jornais proposta pela diretoria da ANJ (Associação Nacional de Jornais) tem apoio dos principais grupos de mídia impressa do país e é considerada um modo de evitar qualquer controle externo.

O conselho de autorregulamentação terá por base código de ética do Estatuto da ANJ, segundo o diretor-presidente do grupo de comunicação RBS, Nelson Sirotsky.

Entre os compromissos das empresas jornalísticas listados no código estão a defesa da liberdade de expressão, dos direitos humanos, da democracia e da livre iniciativa, o sigilo das fontes de informação, a pluralidade de opinião e a correção de erros cometidos nas edições.

Segundo o vice-presidente das Organizações Globo, João Roberto Marinho, as empresas que se associam à entidade -146 jornais- aderem a esse código. ""O que estamos discutindo é como torná-lo mais efetivo junto aos nossos associados, que mecanismos criar para ter uma adesão maior ao código."

Para Sirotsky, o conselho é um passo decisivo para ""sepultar qualquer outra tentativa de criação fora do nosso ambiente que possa prejudicar, violentar o exercício sagrado da nossa atividade, seja enquanto profissionais de jornalismo, seja enquanto empresas jornalísticas."

Na avaliação de Marinho, o controle externo poria em risco a atividade jornalística.

A presidente da ANJ, Judith Brito, reeleita ontem para mandato de mais dois anos, afirmou que o conselho vai examinar as demandas encaminhadas pela sociedade de práticas que estejam em desacordo com o código de ética da associação.

A ideia inicial é estabelecer sanções que possam ir de advertência até a desfiliação do jornal. Uma comissão interna está sendo montada para estruturar o modelo do conselho, que teria sete membros e participação de jornalistas e de representantes da sociedade.

O presidente da Aner (Associação Nacional de Editoras de Revistas), Roberto Muylaert, propôs que a discussão seja conduzida em conjunto pelas entidades.

A criação do conselho foi aprovada no âmbito da diretoria da ANJ, mas sua implantação terá de ser aprovada pelos associados, em assembleia. Segundo Sirotsky, o processo deve estar concluído até o final do ano.

CRÍTICAS

No debate sobre o tema ontem, no 8º Congresso Brasileiro de Jornais, o editor de opinião de "O Globo", Aluizio Maranhão, revelou preocupação ""com o imenso teor de subjetividade" da avaliação do produto jornalístico.

Para Maranhão, não é possível comparar o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária, do qual é membro, com o que será criado para os jornais.

"A duvida é que entre os bons propósitos e a vida real, no exercício da autorregulação, há uma distância grande. Acho importante despertar a fera, mas talvez devamos discutir mais como fazer isso. O risco é amanhã a associação ser acusada de ser refratária às criticas. Virão as ONGs, os grupos políticos organizados. Cada demanda terá que ter uma resposta."

Sidnei Basile, vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Abril e vice-presidente da Aner, declarou que é preciso "ocupar o espaço jurídico" após a queda da Lei de Imprensa. "É mais ou menos como carregar uma carga de dinamite. Dá para ser feito, mas com enorme cuidado. O risco é imenso."

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