terça-feira, 22 de março de 2011

A negociação da presidência da Vale


Mantega negocia com Bradesco saída de Agnelli
Braço do banco é um dos principais acionistas da Vale; governo oficializa discussão sobre troca de comando, que ocorria apenas nos bastidores
David Friedlander, de O Estado de S.Paulo


SÃO PAULO - Depois de dois anos de bombardeio pela imprensa, o governo pediu pela primeira vez ao Bradesco, de forma direta, o cargo de Roger Agnelli, presidente-executivo da Vale. Foi na última sexta-feira, num encontro entre o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Lázaro Brandão. O banco, por meio da Bradespar, é um dos principais acionistas da empresa.
a foi oficializar a intenção do governo de trocar Agnelli e iniciar a negociação em torno de um nome para substituí-lo. Dentro do banco, havia a ideia de, não sendo possível manter o executivo, organizar um processo de transição. A ideia de Mantega, no entanto, é combinar tudo agora e fazer a troca na assembleia de acionistas da Vale marcada para abril.

O ministro também disse que o governo ainda não teria preferência por um eventual substituto e propôs ao Bradesco discutir nomes de executivos de fora ou mesmo da atual diretoria. Brandão ficou de discutir o processo dentro do banco.

Procurados oficialmente e informados do assunto, Bradesco, Mantega e Agnelli preferiram não se pronunciar. A assessoria de imprensa do Ministério da Fazenda disse apenas que o ministro Guido Mantega conversa com o Bradesco sempre que necessário.

Influência. Embora a Vale tenha sido privatizada em 1997, o governo exerce influência na companhia por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de fundos de pensão de empresas estatais liderados pela Previ (dos funcionários do Banco do Brasil), que são acionistas da mineradora. Junto com a Bradespar (empresa de participações ligada ao Bradesco) e da trading japonesa Mitsui, eles controlam a Vale.

O governo nunca assumiu a intenção de trocar Agnelli, que era próximo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva até a crise de 2008. A fritura do executivo vinha sendo feita por meio de mensagens anônimas, antes atribuídas a Lula e agora à presidente Dilma Rousseff, dando conta do desconforto do Planalto com o comportamento de Agnelli na Vale.

De acordo com essas versões, o governo quer na Vale alguém mais alinhado com seus interesses e disposto a seguir uma programação planejada por Brasília. Numa comparação frequente, o governo gostaria que a Vale, maior produtora de minério de ferro do mundo e segunda maior mineradora do planeta, seguisse o exemplo da Petrobrás - embora a mineradora seja empresa privada, de capital aberto e milhões de acionistas.

Atritos. Perto dos dez anos na presidência da Vale, Agnelli teve acesso privilegiado aos gabinetes mais importantes de Brasília durante boa parte do governo Lula. Os ventos mudaram de lado na crise global de 2008, quando a Vale demitiu funcionários e suspendeu alguns investimentos - justamente no momento em que Lula dizia que a crise internacional era uma "marolinha" e não afetaria o Brasil.

Em outro ponto de atrito, Lula prometeu construir siderúrgicas com investimento da Vale e ficou irritado com a demora da companhia em dar iniciar os projetos. Finalmente, a gestão de Agnelli foi criticada por ter comprado grandes navios fora do País.

Para se defender dessas críticas, a Vale respondeu que na crise contratou mais do que demitiu, que as siderúrgicas estavam demorando por problemas alheios à sua vontade e que os navios custavam no Brasil quase o dobro do que na Ásia.

Ao contrário do governo, o mercado enxerga no comportamento de Agnelli uma garantia de que a companhia estaria comprometida apenas com o retorno para seus acionistas e preservada de interesses políticos. No ano passado, a Vale obteve o maior lucro líquido da história da indústria de mineração: R$ 30,1 bilhões. Na gestão de Agnelli, a empresa passou de oitava a segunda maior mineradora do mundo.

Blog do Luis Nassif

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