sexta-feira, 17 de maio de 2013

Comissão da Verdade: soldado diz que viu coronel executar casal de estudantes

Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil


São Paulo – Detalhes da execução do casal João Antônio dos Santos Abi Eçab e Catarina Abi Eçab foram revelados hoje (16) pelo soldado do Exército Valdemar Martins de Oliveira em depoimento prestado à Comissão da Verdade do Estado de São Paulo.
Os dois estudantes de filosofia foram mortos em 1968 e, segundo Oliveira, o autor do crime foi o coronel Freddie Perdigão, apontado como um dos criadores do Departamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi). “Ele se abaixou, quase de joelhos, e deu um tiro na cabeça de cada um”, disse, detalhando que Perdigão usou uma pistola Colt 45.
Oliveira garante ter participado de toda a operação que resultou na execução do casal, desde a captura em uma casa no bairro de Vila Isabel, na zona norte do Rio de Janeiro, até os dois serem levados para um sítio à margem da Via Dutra, onde foram mortos. Segundo ele, antes da execução, o casal foi torturado em uma chácara em São João do Meriti, na Baixada Fluminense. “Um lugar tenebroso”, descreveu.
Algum tempo depois da execução, Oliveira disse que deixou o Exército por não concordar com aquele tipo de violência e que chegou a passar um ano no Chile para escapar das perseguições dos militares. Em 1998 foi reintegrado, sendo dispensado no ano seguinte.
A versão oficial da época atribuiu a morte do casal Abi-Eçab à detonação de explosivos que os dois estudantes transportavam enquanto viajavam de carro pela BR-116, no trecho próximo a Vassouras. Mas, em 2000, o laudo da exumação dos restos mortais mostrou que os dois foram executados. Militante da Ação Libertadora Nacional (ALN), o casal era suspeito de ter participado da execução do capitão do Exército norte-americano Charles Rodney Chandler, em 12 de outubro de 1968.
Também participou da operação de sequestro e execução do casal, de acordo com Oliveira, o sargento Guilherme do Rosário, que morreu no atentado do Riocentro, quando a bomba que carregava explodiu no seu colo, dentro do carro. O soldado reforçou a ligação de Rosário com o coronel Perdigão, apontado como mentor do atentado à bomba mal-sucedido ao Riocentro, onde ocorria o show comemorativo do Dia do Trabalho, em 1981. O coronel Perdigão morreu em 1997.
Em seu depoimento, Oliveira destacou ainda a participação de agentes dos Estados Unidos na doutrinação de soldados brasileiros. Segundo ele, nos treinamentos foram exibidos filmes de torturas cometidas pelos norte-americanos na Guerra do Vietnã.


Agência Brasil

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