quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Barroso foi o triunfo da esperança sobre a experiência

Paulo Nogueira 22 de agosto de 2013


Sua contribuição para o julgamento pode ser representada numa palavra: zero.
Ele vai entrar para o anedotário jurídico nacional
Ele vai entrar para o anedotário jurídico nacional


O ministro Luís Roberto Barroso rapidamente demonstrou que foi o triunfo da esperança sobre a experiência.


Alguns otimistas imaginavam que ele traria um pouco mais de nexo ao STF no julgamento do Mensalão. Mas o que ele fez foi reforçar as fileiras do absurdo.


Há de entrar para a antologia das asneiras jurídicas brasileiras sua frase segundo a qual, embora discordasse de muitas coisas, votaria com a manada barbosiana por entender que não se deveria mexer num processo já na etapa final.


Eu não gostaria nada de ver Barroso entrar num grupo já formado de juízes para deliberar sobre minha sentença de enforcamento. Fico imaginando-o dizer que embora discorde da forca vota nela porque assim os outros juízes decidiram. Adeus, pescoço.


Não me incluí entre os esperançosos ao saber da sua indicação.


Ao pesquisar sobre ele, a primeira luz amarela que me veio foi saber que ele fora advogado da Abert, a associação que faz lobby para a Rede Globo.


Ninguém tem este tipo de cargo à toa.


O amarelo ganhou intensidade quando vi a alegria com que comentaristas da Globo o saudaram. Era como se dissessem: “É dos nossos!”


A luz amarela se converteu em vermelho depois que li um artigo no qual Barroso defendia a reserva de mercado para as empresas de mídia – um privilégio que fere visceralmente a livre concorrência.


No texto, publicado no Globo, Barroso exaltava as novelas como “patrimônio cultural” brasileiro. Deviam ser preservadas da sanha estrangeira.


Pausa para rir.


Devemos portanto  proteger novelas que empurram o futebol para horas tardias e que fazem coisas como, por meio de merchandisings milionários, estimular os brasileiros a tomar cerveja em todas as ocasiões.


Nova pausa para a risada.


Um advogado comprometido com o interesse público lutaria por banir o merchandising – a propaganda que é infiltrada numa trama como se não fosse propaganda.


O espectador é, em suma, ludibriado.


Mas o apogeu do artigo de Barroso veio num risco que ele identificou caso caísse a reserva: uma emissora chinesa poderia fazer propaganda do maoísmo a brasileiros desavisados.


Uma nova pausa, agora para gargalhar.


Para evitar as perigosas pregações de Mao, viciemos os brasileiros em cerveja, portanto, para benefício do patrimônio da família Marinho e dos fabricantes de cerveja.


Este é Barroso.


Um homem que escreve um texto como aquele poderia ser um contraponto à brutalidade sem freios de Joaquim Barbosa?


Poderia dizer para JB que a civilizada, exemplar Noruega condenou um assassino como Breivik a 21 anos e ele pede penas muito maiores para os acusados do Mensalão?


Jamais esperei isso.


Mas muitos sim. E eles agora se vêem na triste, na desolada condição de vítimas do triunfo da esperança sobre a experiência.

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