sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Para entender a compra dos Gripen

A compra dos aviões Gripen NG significam um salto na indústria de defesa nacional; ou em um erro histórico? Aqui (http://tinyurl.com/m4z5sv8) a defesa do Gripen; aqui (http://tinyurl.com/mqtjfkh) o ataque.

As duas posições - contra e a favor - podem ser entendidas a partir da maneira como cada debatedor encara o contrato. Um representa a visão de "cliente"; outro, a visão estratégica de defesa.

O "cliente" quer a melhor máquina, independentemente do preço e das chamadas externalidades positivas. A visão estratégica visa criar as melhores condições para o desenvolvimento tecnológico interno.

Quando o Brasil adquiriu os Tucanos, coube à Embraer a assimilação da tecnologia, que lhe foi de plena valia no desenvolvimento posterior dos seus aviões comerciais. Tornou-se um player internacional e um fabricante de aviões de treinamento militar.

Agora, o acordo com a SAAB-Scania lhe permitirá acesso à tecnologia supersônica, assim como o das demais empresas de defesa que se envolverão com os projetos.
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Em um dos seminários do Projeto Brasil, sobre a indústria de defesa e sobre a licitação FX, o respeitabilíssimo Brigadeiro Sérgio Ferolla deu o diagnóstico definitivo:

- Se fosse do governo, em vez de comprar aviões de fora investiria toda esse dinheiro no desenvolvimento de um avião nacional. O que interessa é o domínio da tecnologia, e não possuir a última máquina de guerra.

Há duas maneiras de desenvolver tecnologia: investindo esforços próprios e recorrendo à reengenharia; ou cortando etapas através de acordos internacionais bem elaborados.

Em ambos os casos, o Estado se vale de dois poderes de indução: financiamentos para pesquisa e poder de compra. No caso de parcerias, corta-se caminho e ganha-se tempo.
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O fato do Gripen não ser um projeto acabado, não é desvantagem. Pelo contrário: permitirá não apenas a participação brasileira no desenvolvimento de áreas críticas, com os suecos aportando seu conhecimento de supersônicos, como também da propriedade intelectual. E tudo saindo do financiamento da SAAB-Scania para a compra dos aviões.

Além disso, visará tornar o Brasil uma base de produção para a exportação de aviões.
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E aí se entra na questão dos nichos de mercado a serem explorados.

O Gripen parece o mais adequado para países emergentes. Não tem o alcance e a potência dos F-18, Rafale ou Sukoy, armamentos caros e pensados para guerras convencionais entre potências militares. Pelas descrições, é leve, barato, tanto no preço quanto na manutenção, flexível e adequado para países pobres ou emergentes, o melhor nicho para produtos tecnológicos brasileiros.

Suponha o contrato com a Boeing ou a Dassault. Alguém imaginaria que a mera assimilação de partes da tecnologia permitiria ao Brasil competir nos mercados de caças de primeira linha? É evidente que não.

No máximo, daria alguma flexibilidade na manutenção dos jatos ou na implementação de alguns sistemas tropicais - a exemplo do que fez Israel com os Mirages franceses.

Há que se aguardar o detalhamento do acordo. Pelos anúncios até agora efetuado, foi um lance maior no desenvolvimento de uma tecnologia de defesa.



Blog do Luis Nassif

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