segunda-feira, 17 de março de 2014

As reeleições de Lula e Dilma

Poucos se lembram, mas o ex-presidente enfrentou maiores dificuldades em 2006 


por Marcos Coimbra publicado 16/03/2014 00:11 
 
Renato Araujo / ABr
Lula
Em 2006, Lula sempre liderou as pesquisas, mas a reeleição só se tornou uma ideia sólida no final da campanha
Existem muitas diferenças e algumas semelhanças entre os primeiros mandatos de Lula e Dilma Rousseff. No plano eleitoral, essas são especialmente visíveis no modo como chegaram ao quarto ano e ao início do processo sucessório.
A vitória de Lula em 2006 foi tão significativa e o segundo mandato tão consagrador que tendemos a esquecer as dificuldades que o ex-presidente atravessou naquele ano. Ele sempre liderou as pesquisas, é verdade, e o governo manteve-se majoritariamente aprovado ao longo do período, mas sua posição só se tornou confortável nos últimos meses.


Se tomássemos como estava no fim de fevereiro, constataríamos um quadro nada tranquilizador. O governo tinha uma avaliação positiva de 37%, maior que a negativa, de 22%, mas menor que a soma daqueles que o consideravam “regular”, 39%, segundo dados do Datafolha.


Essa falta de entusiasmo em relação ao governo se manifestava nas intenções de voto: na mesma pesquisa, Lula obtinha 39% na lista em que José Serra, com 31%, aparecia então como a opção do PSDB. Os demais candidatos totalizavam 16%. A chance de o petista vencer no primeiro turno era quase nula.


Nos levantamentos subsequentes, a vantagem de Lula sobre os concorrentes ampliou-se, mas muito pelo fato de Geraldo Alckmin ter sido o escolhido para representar os tucanos. Em março, o ex-presidente tinha 42% e o paulista alcançava 23%. No mês seguinte, a diferença entre os dois permaneceu idêntica. Lula só chegou à marca de 45% em maio, quando deixaram de ser pesquisados os nomes de possíveis candidatos do PMDB, após o partido decidir não lançar um nome.
Como se vê, foi lenta a ascensão de Lula, e deveu-se mais a movimentos internos do sistema político do que ao crescimento do apoio popular à candidatura.


A razão, provavelmente, era a avaliação do governo. Pois, se é fato que os números de fevereiro (embora não fossem maravilhosos) mostrassem expressiva recuperação em relação a dezembro, os meses seguintes foram de interrupção da tendência de melhora.


No fim de 2005, o governo Lula havia chegado a seu pior momento: apenas 28% dos entrevistados o avaliavam positivamente, abaixo dos 29% que o reprovavam. Recompôs-se e foi a 37% em fevereiro. Mas lá empacou: 38% em março, 37% em abril, 39% em maio, 38% em julho. Parecia incapaz de voltar ao patamar de 45%, onde estivera em dezembro de 2004.



Quem acompanha as pesquisas atuais percebe a semelhança com o momento atual. As quatro fases pelas quais Lula passou entre meados de 2005 e a pré-campanha de 2006 repetem-se com Dilma. A presidenta estava em seu máximo no começo de 2013, perdeu boa parte da popularidade entre junho e julho, recuperou-se em agosto, mas sem voltar aos níveis anteriores ao “derretimento”, e parou de melhorar de lá para cá. Sua avaliação e intenção de voto estão “congeladas” desde setembro.  O mesmo padrão do ocorrido com Lula.


Em 2006, houve, porém, uma nova fase, inaugurada quando foi dada a largada efetiva da campanha. Mais especificamente, a partir de agosto, ao começar a propaganda eleitoral na televisão e no rádio.  Foi somente quando Lula teve acesso aos meios de comunicação de massa, para mostrar seu trabalho e defender o governo, que as condições de competição se tornaram menos desequilibradas. A intensa campanha da mídia antipetista contra ele e o governo não cessou, mas outro discurso pôde ser exposto aos eleitores.


A avaliação positiva foi a 45% em agosto, 46% no início e 49% no fim de setembro. Continuou a crescer em outubro e chegou a 53%, superior à alcançada por qualquer presidente que o antecedeu, em qualquer momento (dados sempre do Datafolha).
E Lula venceu a eleição.



A lembrança do acontecido em 2006 serve para deixar menos ansiosos aqueles que apoiam a reeleição de Dilma. Tudo considerado, o fato de ela “ter parado de subir” desde agosto de 2013 não parece ser problema grave.


Inversamente, serve para diminuir as esperanças da oposição. Não são apenas Aécio Neves e Eduardo Campos que podem se beneficiar da propaganda eleitoral. Na verdade, como vimos nas disputas pela reeleição, tanto com Fernando Henrique Cardoso em 1998 quanto com Lula em 2006, quem está no governo tende a crescer, pois possui obras a apresentar e argumentos concretos para convencer os eleitores.


Ainda mais quando, como Dilma neste ano, lidera uma coalizão que lhe assegura abundante tempo de televisão.



Carta Capital

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