quarta-feira, 23 de julho de 2014

Vai começar a eleição?

Estudos internacionais revelam: um expressivo contingente de eleitores decide seu voto cedo, bem antes da reta final de uma disputa

por Marcos Coimbra — publicado 22/07/2014 04:09


André Dusek/Estadão Conteúdo

 
Ao se considerar a participação dos eleitores decididos, Dilma Rousseff tem maior proporção de votos "firmes" 
 


O ex-governador Hélio Garcia, uma das mais sábias raposas mineiras, sempre usava uma frase quando se avizinhava uma eleição. “Vamos sem pressa, a eleição só começa depois da Parada”, dizia. Referia-se ao 7 de Setembro, a partir de quando, segundo ele, o cidadão finalmente se preocupava com o voto que depositaria na urna. Até lá, nada de fundamental aconteceria.

A frase é boa, mas não inteiramente verdadeira. Os estudos internacionais mostram: um expressivo contingente de eleitores decide cedo, muito antes da reta final da eleição. E há uma parcela que nem sequer se pergunta sobre o que vai fazer, pois possui identidade partidária consolidada e apenas aguarda seu partido indicar o candidato.

Nas pesquisas das últimas semanas, cerca de 50% dos entrevistados se dizem decididos a respeito do que fazer na eleição presidencial, seja lá por qual razão. Tanto a simpatia e o sentimento de identificação quanto o ódio e a rejeição podem provocar a cristalização de atitudes. “Voto sempre no partido A”, “jamais votaria no partido B” e “não voto em ninguém” são respostas típicas de quem logo se decide.

Ao se considerar a participação dos decididos entre os eleitores dos principais candidatos, Dilma Rousseff, nota-se, tem a proporção maior de votos “firmes”. Em seu caso, são dois terços, mais do que o porcentual de Aécio Neves (que fica perto de 55%) e Eduardo Campos (por quem estão decididos menos de 40% daqueles que dizem pretender escolhê-lo). Convictos mostram-se também aqueles que asseguram a intenção de votar em branco ou anular o voto: em cada cem eleitores que assim se manifestam, 65 afirmam estar resolvidos.

A presidenta possui expressiva vantagem entre quem está decidido a votar em algum nome (o “voto válido”, entre eles): ela tem mais de 60% das preferências, Aécio menos de 30% e Eduardo perto de 10%.

Chegamos, portanto, ao período de campanha com muita coisa definida e muito por definir, sem que isso implique imaginar que os 50% atualmente não decididos vão todos encontrar um nome em quem votar. Ao contrário, como vimos em eleições passadas, entre esses costuma predominar a tendência à alienação eleitoral: anular, votar em branco ou não comparecer, o que se tornou mais comum depois da introdução do voto eletrônico. Em 2010, por exemplo, mais de 25% dos eleitores assim procederam. Neste ano, espera-se que ultrapassem esse patamar.

Estar decidido, claro, não quer dizer fechar os olhos a tudo o que vai acontecer nos próximos meses. Salvo para os mais ideológicos, a quem quase nada afeta, mesmo decisões sólidas podem ser revistas, se fatos significativos ocorrerem. Não estar decidido, por sua vez, não significa deixar de ter alguma intenção de voto: muitos desses eleitores mostram clara inclinação a votar em alguém. São aqueles que aparecem na diferença entre “voto espontâneo” e “voto estimulado” nas pesquisas divulgadas.

Com a bela Copa do Mundo organizada pelo Brasil, removeu-se um elemento de dúvida que perturbava a decisão de muitos eleitores. Mas podemos ter certeza de que outros serão criados de agora até outubro. A mídia oposicionista já mostrou, nas duas últimas eleições, quão longe pode ir na produção de um noticiário negativo às candidaturas do governo. Ela fica a postos até a última hora, sempre pronta a entrar em campo para favorecer seus preferidos.

Nossa cultura política parece achar positivo que o eleitor só se resolva quando não lhe resta mais prazo. Inventamos duas teorias despropositadas: a noção de “propaganda eleitoral antecipada”, que limita a movimentação dos candidatos aos três meses que antecedem a eleição, e a instituição da “propaganda eleitoral gratuita”, que despeja doses maciças de comunicação política sobre os eleitores nas últimas seis semanas antes da eleição.

E ainda temos anacronismos como as pesquisas escandalosas que a “grande imprensa” trombeteia em manchetes garrafais e o célebre (e ridículo) “debate na Globo”, feito na antevéspera da eleição para assustar candidatos e deixar na expectativa os eleitores.

Nada de bom pode nascer dessa mistura de mídia manipuladora, campanha cerceada e exacerbação publicitária. Mas existe o povo que costuma conseguir, apesar de tudo, fazer valer a sua preferência. Ainda bem.
 
 
Carta Capital

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