quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Ativista comemora saída do Brasil do mapa da fome



Representante da Rede de Instituições do Borel, Mônica Francisco diz que ainda é preciso “batalhar para que nossos irmãos no globo também estejam na mesma condição”, mas que não se deve “cair na armadilha de achar que não somos nada e não podemos nada”. Ela ainda relembrou, no Jornal do Brasil, os trabalhos desenvolvidos pelo médico e geógrafo Josué de Castro e pelo sociólogo Betinho

25 de Setembro de 2014 às 10:25



Favela 247 – A saída do Brasil do Mapa Mundial da Fome, divulgada na última semana através de dados das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), foi comemorado pela representante da Rede de Instituições do Borel Mônica Francisco. “Celebrar nossa conquista, celebrar porque meus irmãos no Brasil tem o que comer, mas ainda batalhar para que nossos irmãos no globo também estejam na mesma condição. Ainda temos muitas ‘doenças’ e mazelas a vencer, mas vamos festejar. (...) Não vamos cair na armadilha de achar que não somos nada e não podemos nada”, escreveu em artigo publicado na coluna Comunidade em Pauta, do Jornal do Brasil. No texto, a ativista lembrou as ações relacionadas ao tema desenvolvidas por duas figuras importantes na história brasileira: o médico e geógrafo Josué de Castro e o sociólogo Herbert de Sousa, o Betinho. O primeiro pelos trabalhos “Geopolítica da fome” e a “Geografia da fome no Brasil” – “mostrando que não era a quantidade de alimentos ou o excedente populacional o maior problema, mas a distribuição da riqueza, concentrada na mão de poucos” – e o segundo pelo movimento “Ação da cidadania contra a miséria e a fome” (“Betinho turbinou o pensamento e as análises de Josué de Castro com ação, (...) apoiado pela sociedade e que anos depois se tornou política pública”).



Por *Mônica Francisco, para o Jornal do Brasil

Viva o Brasil sem fome!

Não sei por que vivo com essa sensação de que muita gente, mas muita gente mesmo, quer que sempre carreguemos um peso, uma marca de sermos sempre, sempre deficientes em tudo.

Carregamos durante séculos o peso de milhares de famintos, reportados pelo médico e pensador da geografia Josué de Castro em sua Geopolítica da Fome e a Geografia da fome no Brasil, mostrando que não era a quantidade de alimentos ou o excedente populacional o maior problema, mas a distribuição da riqueza, concentrada na mão de poucos, ou seja a desigualdade como real redutor das possibilidades de alcançar o mínimo para subsistência humana.

Josué de Castro expôs nossa mazela, uma das mais vis, ainda mais em se tratando de um país maravilhoso e diverso na produção de alimentos, com frutas maravilhosas e uma cultura alimentar super interessante e de dar inveja a muito cozinheiro(chef)inglês por aí. Mas isso fica para depois.

O fato é que Josué de Castro nos fez "descobrir" a grande "doença" da fome da qual nossa pátria padecia, mas Betinho, o da "fome" como os mais humildes o chamavam e alguns ainda o lembram assim. Então, sociólogo, hemofílico, militante, apaixonado pelo povo brasileiro, pela sua gente, nos fez em meio às suas vicissitudes pessoais, abraçar o compromisso de dar de comer a quem tem fome.

Betinho turbinou o pensamento e as análises de Josué de Castro com ação, a sua Ação da Cidadania contra a Miséria e a Fome, apoiado pela sociedade e que anos depois se tornou política pública e recebemos nestas últimas semanas a grande notícia e vendo o mapa da fome sem o Brasil figurar nele me deu uma vontade de chorar e celebrar ao mesmo tempo.

Celebrar nossa conquista, celebrar porque meus irmãos no Brasil tem o que comer, mas ainda batalhar para que nossos irmãos no globo também estejam na mesma condição. Ainda temos muitas "doenças" e mazelas à vencer, mas vamos festejar, celebrar Betinho, Josué de Castro e o futuro. Não vamos cair na armadilha de achar que não somos nada e não podemos nada.

Já vimos que é possível, e certamente veremos nossa saúde, nossa educação em melhor situação. Celebremos sem parar a luta. Temos que mudar muitos mapas ainda e o da violência é um que temos de nos dedicar com toda a força para tirar das estatísticas vergonhosas um contingente monocromático e morador de áreas pobres das nossas grandes capitais.

Viva Josué de Castro, que nos descortinou sem pudores a cara faminta do Brasil. viva Betinho nosso Dom Quixote. E por fim, com licença do maiúsculo aqui minha gente, Viva o Brasil sem fome!

"A nossa luta é todo dia. Favela é cidade. Não à GENTRIFICAÇÃO e ao RACISMO, ao RACISMO INSTITUCIONAL, ao VOTO OBRIGATÓRIO e à REMOÇÃO!"


*Monica Francisco é representante da Rede de Instituições do Borel, coordenadora do Grupo Arteiras e consultora na ONG Asplande
 
 
Brasil 247

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