terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Falta d’água é um dos assuntos mais sérios no mundo. Menos para a mídia brasileira



Pessoal, o mundo inteiro começou e entrou fundo na preocupação com a falta d´água, com os riscos da escassez se ampliar. Semana passada houve em Brasília uma mini-reunião ministerial – 8 ministros – em que a titular do Meio Ambiente, Izabella Teixeira pediu ao país que economiza água, o Brasil vai até sediar o Fórum Mundial da Água em 2018 (realiza-se a quatro anos). O medo cresce, a gravidade da situação também… menos para a nossa mídia.

Ela continua a tratar do assunto como se ele não tivesse atingido essa dimensão, essa gravidade. Para o mundo inteiro o risco d´água acabar, dos reservatórios de abastecimento secarem, de não haver água nem racionada é o fato da maior importância no momento. Menos para a mídia brasileira. Temos falado disso aqui diariamente, chamado a atenção para o comportamento da imprensa brasileira. E a gente não tem saída, tem de continuar falando…

Acompanhem hoje – um dia que seja – como a mídia tupiniquim trata a questão. A Folha de S.Paulo conta, por exemplo, com uma apuração um tanto quanto chinfrim, que a SABESP amplia os cortes de água e faz novas vítimas da seca: “Na capital paulista, há relatos de falta de água em todas as regiões. Alguns sentem os efeitos da redução de pressão pela primeira vez”. O que é isto? Difíceis e raros de serem encontrados os paulistanos que só agora sentem os efeitos da redução da pressão (que impede a água de chegar a toda a rede). Há paulistanos de todas as áreas e bairros se queixando disso há um ano ou mais…

Na crise, como fazer para garantir notícia correta e do que mais interessa?

O Estadão traz a seguinte chamada de capa: “SABESP divulga horários em que reduz a água na rede”. O jornal fez levantamento em 20 endereços e constatou que a restrição é feita diariamente – “começa quase sempre por volta das 13 horas e pode durar até 18 horas”. Não precisa pesquisar só em 20 endereços, a cidade inteira reclama disso há muito tempo…

Até, no caso do Estadão, tínhamos aí uma possível manchete, “Racionamento em SP dura até 18 horas”. E qualquer editor de primeira página seria capaz de perceber isso. Mas não, o noticiado é velho – noticiam só uma pesquisa feita em 20 endereços quando milhões de paulistanos sofrem desde o ano passado os efeitos de um racionamento que o governo não assume ter imposto. Mesmo quando noticiam sobre pessoas “até 18 h sem água” a notícia é escondida e suavizada.

Note-se que a crise hídrica foi o tema mais lido no portal do jornal, ontem, com a notícia (que não estava na capa do impresso) sobre a crise no Cantareira a superar o pior cenário imaginado pela SABESP. Mais curioso ainda: a principal foto da capa do Estadão hoje é sobre nevasca nos Estados Unidos. Onde? Nos Estados Unidos.

E o Valor conta em seu noticiário sobre a crise que o consumidor vai à Justiça para garantir água. Como fazemos nós, cidadãos comuns, pobres mortais, mas também moradores e consumidores de água em São Paulo para garantir notícia? Completa, imparcial, isenta, analítica sobre os pontos mais importantes dessa crise?
 
 
 
Blog do Zé Dirceu

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