quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Youssef repete CPI que houve propina a Aécio mas jornais acham que “não vem ao caso”


POR FERNANDO BRITO · 25/08/2015




Fiquei procurando, em vão, menção no noticiário ao que disse Alberto Youssef sobre as propinas que pagou, segundo ele, a uma diretoria de Furnas que seria “dividida” entre José Janene, do PP, e Aécio Neves, cujo pai, Aécio Ferreira da Cunha, foi membro do Conselho de Administração da Empresa.

Nada.

Silêncio sepulcral, apesar de Youssef ter falado nisso suas vezes, segundo a “narração” do seu depoimento, feita em tempo real pelo Estadão:
16h02: Youssef volta a confirmar o esquema de repasses na diretoria da estatal energética Furnas, que segundo ele possuía uma diretoria dividida entre Aécio Neves e José Janene;
18h12 :Deputado Jorge Solla (PT-BA) volta a questionar sobre episódio envolvendo a propina em uma diretoria de Furnas, dividida entre PP e PSDB, e também o repasse de recurso para a campanha do senador Antonio Anastasia ao governo de Minas Gerais em 2010;

18h14: Youssef confirma que mandou dinheiro para Belo Horizonte, mas diz que não sabia que era para Anastasia. O doleiro afirmou ainda que só o Jayme Careca, que entregava dinheiro para ele, saberá falar quem entregou o dinheiro; 
18h15: Doleiro também confirma sua versão sobre propina em Furnas e diz que Aécio Neves (PSDB-MG) recebeu propina na estatal de energia pelo que ele ouviu na época;
19h06: “Não podemos dizer que alguém que foi aqui denunciado por Youssef, como Aécio em um esquema nebuloso de Furnas, possa sem ser investigado ser declarado inocente”, conclui o deputado Paulo Pimenta.

Não vou nem falar sobre a confirmação dos R$ 10 milhões para Sérgio Guerra e dos R$ 20 milhões para Eduardo Campos, que estão mortos e não são, por isso, mais “notícia”, embora meu parco entendimento diga que, sendo dinheiro público o que se usou nestes pagamentos, é dever da Justiça procurá-lo e reavê-lo.

Mas a reiterada acusação a um senador da República, candidato a presidente e – segundo seus próprios delírios – “presidente moral do Brasil” vai continuar sendo ignorada?

O ministro Gilmar não vai pedir investigações?

Os jornais não vão buscar mais detalhes: quem pagava, como pagava, quem levava, quem recebia – a bufunfa?

Vamos ficar no “não vem ao caso”?

Ninguém quer tomar a palavra de um bandido da cepa de Youssef como verdade, mas – ao contrário de tudo o mais que ele falou – não se vai investigar?

E a acusação a Pallocci, sobre a qual Youssef diz que “tem um outro réu colaborador que está falando. Eu não fiz esse repasse e assim que essa colaboração for noticiada, vocês vão saber realmente quem foi que pediu o recurso e quem repassou o recurso”.

Como assim? Youssef participa das negociações de outros delatores? É combinado? Uma delação que, até ser homologada, deveria correr em absoluto sigilo, é do conhecimento do doleiro?

Será possível que o Judiciário brasileiro aceite – perdão pela palavra – esta “esculhambação”?

Houvesse um pouco de brio e Youssef estaria agora sendo interrogado sobre como obteve informações sobre delações em negociação com o Ministério Público.

Mas não há.


Tijolaço

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