sexta-feira, 25 de setembro de 2015

A escolha das palavras é a escolha das ideias



POR FERNANDO BRITO · 25/09/2015






Com seu faro de professor, o velho mestre Nílson Lage chama a atenção para a didática imagem espalhada pelo Twitter.

Qual está “certa”, qual está “errada”?

Todas e nenhuma, dependendo de como o freguês da leitura dos jornais e seus sites tenha simpatia por vê-la, mesmo que não saiba que a tem.

É o que o discurso da comunicação faz: a partir de fatos reais, os projeta, como as sombras da caverna do mito platônico, em uma direção constante e em um só sentido.

E quando todo as luzes provém de um só polo e apontam uma única direção, é natural que a projeção seja a mesma.

Ainda assim, mesmo que com o monopólio da luz – ou para torná-lo mais eficiente – os “donos” da mídia sabem que a realidade está ali, teimosa, fazendo com que as pessoas tenha sua identificações, também ainda que incientes.

Em “O Globo”, para a classe média, são “moradores” que “reagem” aos “ônibus”, como se os ônibus e não seus ocupantes fossem a razão do espatifamento dos vidros.

Para o “Extra”, da mesma empresa, já são “gangues da Zona Sul” que “cercam” os “ônibus na saída da praia”, isto é, os carregados de gente pobre.

Uma e outra revelam os sentimentos de uma sociedade que não se reconhece como uma unidade.

Os moradores “reagem” à invasão do que julgam só seu, embora público.

E o público, o “ônibus na saída da praia”, reage ao sentimento discriminatório como se este se reduzisse às gangues – e é difícil dar outro nome à reunião de marombeiros dispostos a “dar porrada” – e não contivesse um fenômeno político de discriminação social (e não raro, racial) que vai além, muito além, daqueles microcéfalos.

As três chamadas, inclusive a da Folha – que chama a uns e a outros de “justiceiros” e “suspeitos de assalto” – estão cheias de simplificações, como está cheia de simplificações idiotas o enfrentamento de um problema de convívio social que, se exige ações de segurança, exige muito mais ações de educação e de fixação de valores.

E não apenas do lado dos pobres, porque do outro lado da cerca, não importa de que lado se olhe, haverá sempre o medo, o ódio, a ferocidade.

Dá “cliques” , audiência e, lógico, faturamento à mídia vender o ódio.

O traço comum de escolhas diferentes de palavras e semelhantes de razões.


Tijolaço



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