sábado, 19 de dezembro de 2015

“Vamos partir pra ignorância”: o nó na cabeça dos extremistas pós-STF. Por Kiko Nogueira

Postado em 18 dez 2015


Marcello Reis: “Se Dilma não cair até março, vamos derruba-la”

A histeria coletiva dos Revoltados Online já deu provas suficientes de que, além de lucrativa, não é inofensiva. Para ficar num exemplo, em julho um membro do grupo conseguiu invadir a comitiva presidencial brasileira nos Estados Unidos.

O rapaz está livre, leve e solto porque esse povo de bem recebeu um salvo conduto em 2015 e age impunemente.

Mas a sessão do STF que destroçou o voto de Fachin levou a coisa a um novo patamar de insanidade. Um tal Rodrigo Brasil escreveu o seguinte: “STF rasga a constituição e declara que o Collor sofreu um golpe. Ou partimos para ignorância (sic) ou esperamos sentados….”

Marcello Reis, o fundador, foi mais longe num vídeo no Facebook: “Se ela não cair até 13 de março de 2016, nós vamos derrubá-la”. Nos comentários, alguns falam em “meter um tiro na cabeça da vaca” etc.

Tudo é travestido naquela conversa paranoica de que o bolivarianismo dominou as instituições, de que vivemos numa ditadura etc — e mande dinheiro para a conta.

Pode isso? O que significa exatamente “partir para a ignorância”? Como o fulano pretende “derrubar a Dilma”?

Em junho, um americano chamado Brian D. Dutcher foi preso depois de dizer a um segurança de uma biblioteca que “daria um jeito no usurpador”, referindo-se a Obama.

Descobriu-se que, um mês antes, Dutcher havia escrito no FB: “Matar Obama é nosso DEVER CONSTITUCIONAL!” Nos EUA, ameaçar o presidente em redes sociais e outros meios é um crime cuja pena é de cinco anos de cana, no mínimo, e multa de 250 mil dólares.

No Brasil, não há razão alguma para crer que o clima não vai continuar esquentando. A violência desses desequilibrados já transformou em aceitáveis, ao menos para eles e seus asseclas, comportamentos hediondos.

No último protesto anti Dilma em Copacabana, um menor escapou por pouco de ser linchado. Manifestantes o cercaram e o agrediram até que a polícia o encaminhou a uma viatura.

No caminho, uma mulher gritava “tem que metralhar, tem que metralhar”, outro pedia para “chamar os direitos humanos” e um cidadão filmava o garoto negro dentro do carro da PM como se estivesse num zoológico.

Uma amiga postou uma foto da Avenida Paulista no dia 16 com a legenda “Não vai ter golpe”. Um sujeito copiou e colou um texto de WhatsApp sem pé nem cabeça falando em Venezuela, “bilhões do BNDES”, convocação do “exército vermelho” (!?) e outras sandices.

Sua cunhada a chamou de imbecil, a mãe da cunhada afirmou que ela é desonesta. Uma senhora que ela mal conhece achou normal dar-lhe lições de política e de moral — senhora esta que é produtora de programas policias com flagrantes forjados e todo tipo de armação.

O plano de dominação comunista que essa direita extremista alardeava não deu em nada, mas seus seguidores e idiotas úteis conseguiram, num espaço relativamente curto de tempo, subverter as regras sociais mais básicas. A revoltada que ofende uma pessoa na internet acha OK encontrar a vítima no churrasco e desejar-lhe paz e prosperidade.

É tudo culpa do PT, no final das contas. Inclusive a hérnia de disco e o Natal. Sorte que, em março, esses guerreiros darão um jeito nessa pouca vergonha.


Sobre o Autor
Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.


Diário do Centro do Mundo

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