sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Nem Erundina salvou um debate chato que teve a dupla Marta e Doria fugindo de Haddad. Por José Cássio

Postado em 30 Sep 2016

Chatice descomunal

A Globo enquadrou as campanhas no seu indefectível padrão de qualidade e o resultado não poderia ser outro: o debate desta quinta-feira, 29, último antes do primeiro turno, entre os candidatos a prefeito de São Paulo, foi morno e frustrou quem esperava um confronto de ideias com troca de farpas, acusações e inventividade.

A exceção, para variar, foi Luiza Erundina, que voltou a classificar o tucano João Doria de lobista e o acusou de ter construído sua vida profissional em cima de dinheiro público e intermediação de negócios envolvendo governos e iniciativa privada.

“Você é candidato em troca do uso da máquina do Estado a seu favor”, afirmou Erundina. “Inclusive o ministério público está movendo uma ação para cassar a sua candidatura por causa disso. Modernidade para você é isso, candidato?”

Impassível, Doria, a cada ataque da ex-prefeita, dizia que respeita a sua história de vida mas que são diferentes.

“Eu não sou político, sou um gestor e estou aqui para defender um modelo de Estado moderno e eficiente”, discursou. “Sempre agi com honestidade e decência”.

O modelo do debate acabou desfavorecendo Fernando Haddad, que passou dois blocos sem responder perguntas.

Quando teve oportunidade, o prefeito tirou Marta do sério com uma pergunta sobre a Inspeção Veicular, e a volta da Controlar, e enquadrou Russomanno em relação ao cartão saúde que o candidato do PRB “vende” como a salvação da lavoura para os problemas do setor.

“É equívoco dar o cartão com prontuário para o paciente”, afirmou Haddad. “Se a pessoa perde o cartão vai perder todos os dados. Não sei se você conhece tecnologia, mas existem sistemas de nuvem que são mais eficientes, além da proposta do chip ser cara e inviável”.

Marta concentrou seus esforços em João Doria, no afã de fazer do tucano escada para atacar Haddad e Russomanno – ela os considera concorrentes diretos pelo segundo turno.

Nas considerações finais, a candidata do PMDB afirmou que Doria já está consolidado na liderança.

“Resta então uma vaga”, disse Marta. “O Haddad vocês já conhecem: promete e não entrega. E Russomanno está envolvido em diversos escândalos”.

Difícil prever a influência nos eleitores de um debate chocho e engessado como este realizado pela Globo.

O certo é que Marta e Russomanno fugiram de Fernando Haddad. Muito provavelmente por saberem que enquanto ambos seguem em queda, o prefeito, que tem uma boa estrutura de campanha, com candidatos a vereador e cabos eleitorais espalhados por todos os bairros da cidade, vem crescendo nas pesquisas.

João Doria foi outro que escamoteou. “Talvez ele esteja com receio de me enfrentar no segundo turno”, provocou Haddad.

Faz sentido. Entre um desinformado lerdo como Russomanno ou uma candidata que o próprio filho classificou de “golpista”, como Marta, o tucano teria de ser muito amador para optar por encarar o prefeito que faz um bom governo e busca a reeleição.


Sobre o Autor
JC é jornalista com formação política pela Escola de Governo de São Paulo


Diário do Centro do Mundo   -   DCM

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