terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Aécio e a pinguela sobre o Rubicão. A confissão do assalto ao poder



POR FERNANDO BRITO · 27/12/2016



Michel Temer, na sua pomposa pretensão, chamou-se de “uma ponte para o futuro”.

Fernando Henrique, mais pragmático, chamou-o de pinguela ¨é o que temos”.

Aécio Neves, na Folha, hoje, dá um passo além e chama o período Temer de Rubicão:

Eu conduzirei o partido com as forças que eu puder ter para viabilizar essa agenda de reformas para que nós possamos atravessar o rubicão e chegar a 2018 com o país melhor. 

Embora seja duvidoso que Aécio Neves tenha a compreensão do que é “atravessar o Rubicão” na História.

O rio, em si, não era nenhum caudal difícil de transpor. Mas era o limite, imposto pela República Romana, ao deslocamento das legiões para que não se ameaçasse, dentro da cidade, o núcleo do poder. Os generais só podiam atravessá-lo sem tropas e o que com elas o cruzou, Júlio Cesar declarou a guerra civil para tornar-se ditador.

O “general” Aécio, condottieri tucano, proclama a irreversibilidade da decisão do PSDB de grudar-se ao Governo Temer, ainda que sabendo que parte das legiões, as do General Alckmin, não querem se sujar ante o povo com a dissolução do regime romano.

Declara, como um Julio Cesar tupiniquim, “alea jacta est”- a sorte está lançada – como fez seu modelo romano ao cruzar o rio, a dizer que a decisão é irreversível, para o bem e para o mal.

No que depender de mim, nós estaremos até o final desse governo contribuindo com propostas. O PSDB deve estar lado de Michel Temer.

Quando um tucano desce do muro, a história já nos mostrou para que lado o faz.

Confia em que, com Temer a atrair o desprezo público, possa passar incólume à agenda de destruição de direitos sociais e à abertura das poucas porteiras que ainda protegem resquícios da soberania nacional.

Mas posso estar errando quando me refiro a Aécio como diante ao Rubicão romano. Talvez mais adequado seja falar no de Machado de Assis, em seu romance Helena, onde todos os personagens, pelas conveniências, ambições e dinheiro, vão despencando para a hipocrisia.

Naquela mesma noite, ouviu Eugênia a esperada palavra. (…) Concedendo a mão a Estácio, não era uma castelã que entregava o prêmio, mas um cavaleiro que o recebia com alvoroço e submissão.Transposto o Rubicon, não havia mais que caminhar direito à cidade eterna do matrimônio.

Não faltam romance nem hipocrisia, aliás, na entrevista de Aécio, onde, às risadas, fala que tem por Serra “uma paixão avassaladora”.

Era isso mesmo que o velho Machado queria mostrar: as relações sociais movidas por aparências e pelas ambições.


Tijolaço

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