domingo, 16 de abril de 2017

DELATORES DESMONTAM VERSÃO DE YUNES, O AMIGO DE TEMER

15 de Abril de 2017

Tereza Cruvinel


Michel Temer, citado por diversos delatores como chefe do esquema de arrecadação ilícita do PMDB, respira por aparelhos. Está pendurado no artigo 86 da Constituição. Se o Congresso não fosse também uma casa infestada por corruptos e golpistas, já estaria aprovando uma emenda constitucional alterando este artigo que impede o presidente da República de ser investigado por atos anteriores ou não relacionados com o exercício do mandato. Afora tudo que já foi revelado, as delações desmontam também a versão do ex-assessor e amigo de Temer José Yunes, de que à sua revelia o operador Lucio Funaro deixou um envelope suspeito em seu escritório, que foi retirado por outra pessoa, na hora do almoço, que também disse chamar-se Lúcio. Ou seja, um dinheiro passou por seu escritório e ele não sabe onde foi parar. 

O inquérito 4462, em que o procurador-geral Rodrigo Janot pede a abertura de investigações contra Moreira Franco e Eliseu Padilha, trata de uma propina de R$ 4 milhões acertada com os dois ministros por conta de favorecimento à Odebrecht na concessão do aeroporto do Galeão, e dos R$ 10 milhões que foram pedidos a Marcelo Odebrecht no Palácio do Jaburu, com a participação do próprio Temer. Aliás, o nome de Michel Temer aparece dezenas de vezes em todo o inquérito, e é citado como chefe do esquema de arrecadação do PMDB da Câmara. Relativamente à distribuição dos R$ 10 milhões, dos quais R$ 6 milhões iriam para a campanha de Paulo Skaf ao governo de São Paulo, diz o procurador, com base na delação: “CLÁUDIO MELO reforçou que JOSÉ CARVALHO foi a pessoa orientada a contatar ELISEU PADILHA para alinhamento da forma de pagamento e que apurou que um dos pagamentos referente aos R$ 4 milhões de reais ocorreu entre 10 de agosto e o final de setembro de 2014 na sede do escritório de Advocacia de JOSÉ YUNES.”

Mais adiante, acrescenta que José de Carvalho Filho informou que, “nesse sentido, procurou ELISEU PADILHA, entregando-lhe uma senha e recebendo de PADILHA o endereço para pagamento. Nas consultas ao Sistema Drousys, JOSÉ DE CARVALHO FILHO obteve dois endereços de pagamento. O primeiro no dia 11/08/2014, entregue na Rua Capitão Francisco, 90, Jardim Europa, ao "Sr. Yunes ou Sra. Cida", pessoas indicadas por ELISEU PADILHA para receber os valores. O segundo pagamento relacionado a um endereço ocorreu no dia 08/09/2014, entregue na Rua Jeronimo da Veiga, 248, Apto 1101, ao "Sr. Altair ou Zabo". Há também pagamentos nos dias 01/09 e 29/09 com menção ao nome do colaborador, identificado por um codinome. Por fim, afirma que há registros de ligações de seu telefone para ELISEU PADILHA para tratar dos pagamentos.” Uma tabela fornecida por Carvalho Filho informa que a entrega no escritério de Yunes foi de R$ 1,5 milhão.

Em nenhum momento ele referiu-se a Lucio Funaro como portador de envelope ou de dinheiro para Yunes. Funaro, por sua vez, já disse que nunca operou para a Odebrecht. É pouco provável que, se Funaro tivesse participado da operação, o executivo da Odebrecht omitiria esta informação. O delator afirma que Padilha forneceu, com antecipação, o endereço do escritório de Yunes como destino de uma parte da propina, conflitando assim com a narrativa do próprio Yunes em seu depoimento espontâneo ao Ministério Publico, no dia 14 de fevereiro passado, onde diz:

“(Yunes) Relatou naquela oportunidade que recebeu contato telefônico de ELISEU PADILHA em 2014 questionando se poderia mandar um "documento" para seu escritório para o fim de ser entregue a outra pessoa no mesmo endereço. Após concordar, JOSÉ YUNES recebeu em seu escritório uma pessoa que depois veio saber tratar-se de LÚCIO BOLONHA FUNARO, que lhe entregou um pacote Em seguida, relatou que foi almoçar deixando o pacote com sua secretária, de nome Shirlei, que o entregou a uma pessoa que também usou o nome de "Lúcio" quando lá esteve para retirar o "pacote".

Que objetivo pode ter tido Yunes com seu depoimento ao Ministério Público? Como todo mundo entendeu, buscou proteger o amigo Temer, jogando Padilha no fogo e usando o nome de um parceiro de Eduardo Cunha que já está preso. Àquela altura, as delações já tinham acontecido. O que ele tentou dizer foi o seguinte: se algum delator disser que entregou dinheiro em meu escritório, fique claro que o pacote apenas passou por lá. Não fiquei com o conteúdo e muito menos o repassei ao grande amigo presidente. Uma vacina, que não colou.



Brasil 247

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