sábado, 29 de julho de 2017

OS DEPUTADOS IRÃO SALVAR TEMER 5%?

28 de Julho de 2017

Leonardo Attuch


Nos próximos dias, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), poderá colocar em votação a denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra Michel Temer, em que ele é acusado de corrupção passiva, num caso inédito na história do Brasil. Ao que tudo indica, a oposição não tem os 342 votos necessários para que Temer seja investigado, o que indica a tendência de vitória do Palácio do Planalto.








Pouca gente sabe, mas, em seu primeiro mandato, a presidente Dilma Rousseff produziu fartos superávits fiscais, com 2,94% do PIB em 2011, 2,18% em 2012 e 1,72% em 2013. Apenas em 2014, com a retração da economia global e em especial dos preços do petróleo, houve um déficit de R$ 17,2 bilhões, equivalente a 0,57% do PIB.






É pouco provável que alguém tenha se surpreendido com a condenação do juiz Sergio Moro contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a nove anos e meio de prisão na Lava Jato. Era esse o capítulo final de uma tragédia que arrasta o Brasil para o precipício há mais de três anos e que, como toda novela, necessita de um último capítulo em que os "mocinhos" derrotam os "bandidos". Curiosamente, a sentença saiu no mesmo dia em que foi divulgado o trailer do misterioso filme "A Lei é para Todos", cujos patrocinadores são mantidos em sigilo. Vinte e quatro horas depois, num pronunciamento na sede do PT, Lula disse que seus algozes estavam condenados a condená-lo – uma vez que prisioneiros da narrativa que criaram ou na qual se deixaram envolver – e reivindicou uma nova candidatura à presidência da República.






O próximo terremoto político em Brasília tem nome e sobrenome: Eduardo Cunha. Já se sabe que ele irá delatar Michel Temer, a quem apontará como chefe da quadrilha do PMDB, e também ministros poderosos, como Eliseu Padilha e Moreira Franco. No rol de falcatruas, Cunha deverá citar desvios na Caixa Econômica Federal, no FI-FGTS e na Petrobras, bem como a venda de leis e medidas provisórias na Câmara dos Deputados.




A julgar pelo que já dizem abertamente as principais lideranças do PSDB, partido que desempenhou um papel central na crise política brasileira, dentro de algumas semanas o Brasil terá um novo presidente: o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), que comanda a Câmara dos Deputados. Segundo o presidente interino da legenda, Tasso Jereissati (PSDB-CE), só Maia terá condições de estabilizar o País e conduzir a travessia até 2018. Para o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-MG), o governo Temer acabou e em 15 dias o Brasil terá nova direção.

O desembarque tucano, que vinha sendo adiado, se deve à evidente insustentabilidade de Michel Temer no poder. Além de ser a primeira pessoa denunciada por corrupção durante o exercício da presidência na história do Brasil, em breve ele será também denunciado por obstrução judicial, assim que forem efetivadas as delações premiadas do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e do empresário Lúcio Funaro. Ambos devem confirmar que vinham se mantendo em silêncio apenas porque eram pagos pelo empresário Joesley Batista.

Antes mesmo da delação, Funaro deu o depoimento decisivo para a prisão de Geddel Vieira Lima, outro operador de Temer, ao dizer que ele vinha assediando sua esposa para evitar uma eventual colaboração judicial – o que amplia a veracidade das gravações de Joesley. Nas fitas, o dono da JBS pede a Temer a indicação de um novo interlocutor após a queda de Geddel e é só então que entra em cena o "homem da mala" Rodrigo Rocha Loures.

Da mesma forma, uma delação de Cunha, que acolheu o impeachment sem crime de responsabilidade proposto pelo PSDB contra a presidente Dilma Rousseff, será fatal para Temer – o mais valioso prêmio que o ex-deputado, já condenado a mais de 15 anos de prisão, tem hoje a oferecer aos investigadores. Portanto, ao sentir o navio afundando, o PSDB rapidamente tratou de embarcar no projeto que parece mais viável.

Diante desse cenário, o que esperar de Rodrigo Maia, rotulado como o "Botafogo" nas planilhas da Odebrecht? Na economia, mais do mesmo, com a manutenção de Henrique Meirelles na Fazenda e Ilan Goldfajn no Banco Central. No Congresso, a mesma agenda de reformas, mas com uma base governista em pânico diante da incapacidade demonstrada por Temer em "estancar a sangria". A favor de Maia, uma postura menos revanchista, com maior capacidade de diálogo demonstrada com todas as forças políticas, incluindo o PT. E mesmo que a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) já tenha antecipado o "Fora Maia", parece pouco provável que o atual presidente da Câmara repita os mesmos erros de Temer. Se ele vier a assumir o comando, com apoio do establishment financeiro, será pouco provável que saia antes de 2018. A menos que o clamor das ruas por diretas seja bem mais intenso do que foi até agora.






Nos próximos dias 7 e 8 de julho, quando os líderes das nações mais ricas do mundo se encontrarem em Hamburgo, na Alemanha, uma ausência será notada. Pela primeira vez, desde que o G-20 foi criado, em 1999, para incluir os países emergentes nas discussões sobre os rumos da economia global, o Brasil não estará presente. Denunciado por corrupção passiva, Michel Temer ficará em Brasília, cuidando das articulações para que sobreviva politicamente.


O País em busca de uma saída23 de Junho de 2017


O Brasil viverá, já no início desta semana, uma situação inédita. Pela primeira vez, um presidente da República, em pleno exercício do mandato, será denunciado por corrupção passiva, quando o procurador-geral Rodrigo Janot vier a apresentar sua peça acusatória contra Michel Temer. Janot deve alegar que a mala de R$ 500 mil em propinas da JBS, que levou à prisão o ex-assessor palaciano Rodrigo Rocha Loures, tinha Temer como destino final. Além disso, deve apresentar duas outras denúncias – uma por obstrução judicial, relativa à compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha, e uma por organização criminosa.




Na última segunda-feira, logo após o julgamento do Tribunal Superior Eleitoral sobre as eleições presidenciais de 2014, o PSDB finalmente desceu do muro e reafirmou seu apoio ao governo de Michel Temer, em nome das chamadas "reformas". Uma decisão polêmica, que provocou revolta entre simpatizantes tucanos e provocou defecções na legenda, com desfiliações simbólicas, como a do jurista Miguel Reale Júnior, co-autor da peça jurídica sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff, e a do empresário Ricardo Semler.

Nos bastidores, o que se diz é que o PSDB foi devorado pelo jogo pesado do PMDB. Se a cúpula tucana não enquadrasse os que defendiam a ruptura com Temer e a entrega imediata dos cargos no governo federal, o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) também não teria os votos dos peemedebistas no conselho de ética do Senado. Ou seja: o político que quase venceu a disputa de 2014 seria cassado, na maior derrota política da história do PSDB. Portanto, os tucanos não apoiaram Temer, que está prestes a ser denunciado por corrupção, obstrução judicial e organização criminosa, por vontade própria, mas, como diria o escritor Guimarães Rosa, por precisão. Afinal, estão todos no mesmo barco.

O equilíbrio da aliança PSDB-PMDB, no entanto, é extremamente precário e pode desmoronar já na próxima terça-feira, quando um pedido de prisão formulado pelo procurador-geral Rodrigo Janot será levado ao plenário do Supremo Tribunal Federal. A se repetir a maioria formada no julgamento de um habeas corpus impetrado pela defesa de sua irmã Andréa Neves, Aécio será preso. Ele poderá contar com os votos dos ministros Marco Aurélio Mello e Alexandre de Moraes, mas não com os de Luis Roberto Barroso, Rosa Weber e Luiz Fux, que formam a primeira turma da corte. Se esse prognóstico de 3 a 2 pela prisão de Aécio se confirmar, a moeda de troca do acordão não existirá mais. Portanto, os tucanos não terão mais motivos para se enfileirar nas trincheiras de Temer, que também sofrerá novos desgastes com a denúncia de Janot.

Essa possibilidade de ruptura foi explicitada pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), presidente interino do PSDB, numa entrevista publicada no feriado de Corpus Christi. "Não tenho condições de dizer se Temer é culpado ou não, mas tenho condições de dizer que, praticamente com todo o seu gabinete preso, processado ou pego em flagrante, e as próprias gravações com ele, ele precisa muito rapidamente comprovar sua inocência para levar adiante esse momento difícil", afirmou. Temer se referia aos aliados de Temer que já foram presos, como Eduardo Cunha, Henrique Eduardo Alves, Tadeu Filipelli e Rodrigo Rocha Loures, e àqueles que ainda podem vir a ser, como seus nove ministros que estão sob investigação.

Nesse ambiente tão conturbado, há praticamente um consenso formado entre os agentes econômicos de que Temer não terá autoridade nem força política para conduzir reformas econômicas tão impopulares quanto a trabalhista e a da Previdência. Ou seja: o governo perdeu toda a serventia para as forças econômicas que o levaram ao poder e hoje se dedica, apenas, à busca da própria sobrevivência. Muito pouco para um país com as dimensões e a importância do Brasil, que, embora tenha sido colocado em modo autodestruição pela sua própria elite, ainda tem capacidade de se regenerar.






O governo Temer, que hoje tem como única prioridade garantir a própria sobrevivência, cruzou uma fronteira perigosa na semana passada. Se antes já tinha sua legitimidade contestada, por ter conquistado o poder por meio de um impeachment sem crime de responsabilidade, agora deixou claro que perdeu qualquer pudor e nem se preocupa mais manter as aparências, ao retaliar ostensivamente as empresas do grupo do J&F, da família Batista.






Tratada como "histórica" por Henrique Meirelles e celebrada nas redes sociais por Michel Temer, a notícia de que o PIB brasileiro cresceu 1% no primeiro trimestre deste ano em relação ao último de 2016 está longe de representar o fim da maior catástrofe econômica da história do Brasil. A começar, pelo fato de que, em relação ao primeiro trimestre do ano passado, que seria a base adequada de comparação, houve queda de 0,4% – e não crescimento. Além disso, o ganho de 1% representa mero efeito estatístico de uma supersafra de grãos, que não irá se prolongar ao longo do ano.

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