sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

A abjeção que confessa o abjeto



POR FERNANDO BRITO · 09/02/2018




Recomendo, vivamente, que os leitores,seja com uma colherada de Leite de Magnésia, seja com um comprimido de Omenprazol, leiama “análise” de Diego Escosteguy, ex-Época e agora O Globo, mas sempre coxinha sobre as decisões do Ministro Luiz Edson Fachin sobre o pedido de habeas corpus de Lula.

Na essência, está correta e chega à mesma conclusão que aqui se apontou: Fachin “escolheu” onde Lula será julgado – ou não será, porque seu pedido de habeas corpus tem chances de ser engavetado, até que Moro, apoiando-se na sentença do TRF-4, atinja seu supremo orgasmo mandando a polícia executar a prisão de Lula.

Fachin impediu, na mesma decisão, uma derrota na Segunda Turma do tribunal. Também em virtude do comportamento dos ministros da Segunda Turma nos últimos meses, é altamente provável que Lula conseguisse derrubar a decisão de Fachin. O ministro trocou uma derrota quase certa por uma possibilidade de vitória no plenário — uma vitória que confirmaria, em definitivo, a prisão do ex-presidente.

O coleguinha, portanto, aplaude uma decisão jurídica que é tomada por “estratégia”. Estratégia é algo que, se permitido à acusação e à defesa, é inadmissível num julgador.

O texto é de linguajar de boteco: “Fachin quebra a defesa de Lula no Supremo”.

“Aí, quebrei ele”…

Mas ainda piora: a chamada da matéria é “Ao negar habeas corpus ao ex-presidente e remeter caso ao plenário, ministro compra tempopara que os desembargadores de Porto Alegre decidam sobre a prisão do petista’. O grifo é meu, claro.

Decidir, meu caro, eles já decidiram e você, eu, e as torcidas do Flamengo, do Corínthians, do galo e do Colorado já sabemos que só o que se fará uma homologação formal.

E como é que o menino bem-sucedido na vida descreve e louva a “estratégia” de Fachin : evitar uma derrota que poderia ter sido de 4 a 1 na Turma do STF a que pertence e que tem jurisdição sobre o caso. “O ministro trocou uma derrota quase certa por uma possibilidade de vitória no plenário — uma vitória que confirmaria, em definitivo, a prisão do ex-presidente.”

Não sei se o culto Escosteguy conhece o princípio do juiz natural, base do Estado de Direito, que diz que a escolha de juiz ou tribunal específico é própria dos regimes de exceção. o Antonio, o Zé e o Manoel não teriam sido mandados para o plenário.

Ele, porém, vai ao desdobramento desta “estratégia”:

Fachin tem uma aliada fundamental: a presidente do Supremo, ministra Cármen Lúcia. Ela não só concorda com a manutenção do atual entendimento do tribunal, pelo qual condenados em segunda instância podem ser presos, como luta para separar qualquer reexame da corte sobre esse assunto do caso específico de Lula. Como presidente do tribunal, Cármen Lúcia é responsável pela pauta do plenário. 

Ou seja, nem mesmo Fachin pretende impor sua decisão pelo “tapetão”, mas pelo “gavetão”.

Não põe pra julgar e pronto, Justiça será feita.

Juro que fico triste em ver isso, a juventude assim perdida por uma carreira de “sucesso”.

O elogio da manipulação judicial em razão das simpatias políticas é a morte da decência.

Ao malandro que, no pé do Morro do Juramento, diz “aí, eu quebrei ele” eu posso atenuar o que pensar diante da brutalidade e da ignorância. Mas a quem se gaba de ter mestrado pela ” Columbia University”, pera lá…

Esse é o retrato deprimente de uma camada de jornalistas que esqueceu dos valores, das causas, da decência.

“Aí, Fachin você quebrou ele, vai nessa malandro”.



Tijolaço

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