quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Tuiuti mandou o papo reto na República de Ipanema!

E fez mais do que todas as Ipanemas!

publicado 14/02/2018


O Conversa Afiada reproduz trechos de artigo de Anderson França sobre a Tuiuti e Ipanema:


Um bloco de carnaval entra no aeroporto do Rio, ali na divisa Centro-Zona Sul Maravilha, e os caras:

- Véi, o povo ocupou as ruas, karaka, muita ozadia, esquerda vai vencer.

Lembra do Pasquim?

Os mais velhos - e os que estudam - vão lembrar que O Pasquim era um veículo de comunicação criado por uns caras de Ipanema, em plena ditadura, década de 1960.

A "República de Ipanema", era como se denominavam.

Onde podia rolar crítica ao governo militar, podia protesto, podia Banda de Ipanema, e ~por algum motivo~, lá, em Ipanema, a repressão não ia. Errava o endereço ou não tava no GPS.

Os mais ingênuos dizem que isso foi por causa da coragem dos Ipanemenses. Eu, este que vos escreve e não mora em Ipanema pra se proteger da fúria da internet, digo que foi por motivos de:

Claro que não.

O filho do general morava em Ipanema. A filha do juiz do STF. A afilhada do ministro. O sobrinho do delegado. A família dona da emissora.

Democracia no Brasil sempre valeu pra quem mora nas Ipanemas desse país, que hoje são várias. São Ipanemas geográficas ou abstratas. Há Ipanemas em São Paulo. Bairros onde a polícia, quando chega, é chamada de "força repressora da ditadura", MADALENA, Morador da Vila, que passou na minha timeline essa semana.

Ele reclamava que a PM fizera uma barricada numa rua. Me lembrando que eu andei a vida inteira em lugares onde tinha tanque do exército, helicóptero, Caveirão, pra ver um carnavalesco que se julga socialista chorar na frente de uma barricada formada por PMs que lhe dão boa noite.

Há outras Ipanemas.

As Ipanemas das carteiradas. As Ipanemas das contas bancárias. As Ipanemas do poder político e econômico.

Essa cobra não come o próprio rabo, por isso, nas Ipanemas, você pode pagar de nervosinho, e tudo bem.

Todo mundo bebão no bloco. Mané protesto. Entraram no aeroporto, lugar que pouca gente já acessa, não a rodoviária atrás da Central, cheia de trabalhador indo pra Baixada, crack pra caralho, os camelô tudo, cachorro quente, crente orando. Entraram no aeroporto. Ar condicionado. Pessoas que não ofereceriam nenhuma resistência. Equipe de segurança que sabia que ali estava uma Ipanema.

Tinha pobre no bloco? Provável. Mas se o pau quebrasse, quem ia em cana era ele mesmo. Porque no bloco tinha filho de juiz. Na real, devia ter o próprio juiz. O delega. O médico. O arquiteto. A artista. Filha de artistas. O Jardim Botânico.

Em resumo: Ipanema.

E ninguém quer arrumar confusão com Ipanema. Né?

Sabe lá o que essa gente é capaz. Aliás, sabemos. Queria ver se fosse um bloco de Madureira, entrando no aeroporto, menos, se ameaçasse ir até a calçada.

Deixa protestar. Gritar Fora Temer, sendo que agora, não vai ter mais Fora Temer. É carnaval, né, cada um com sua ilusão.

(...) Mas dessa treta toda, sim, o Tuiuti. Falou sobre a escravidão, resistindo mesmo dentro do circuito do samba, que não se arrisca ir tão longe na crítica.

Não foi sobre o Temer e os palhaços da CBF. As véia da panela. Foi sobre algo maior. A escravidão. Que se perpetua, se transforma.

Tá lá. É só procurar no YouTube.

Protesto feito onde todo mundo podia ver. Caracterizado, dando nome aos bois. O mundo todo viu. Passista trabalhador, não filho ou neto de juiz. Passista que apanharia da polícia.

Num país onde a democracia existe nas Ipanemas, foi importantíssimo ver morador da Barreira do Vasco, de São Cristóvão e do Tuiuti dando um papo retíssimo. Tuiuti fez mais por mim ontem que toda Ipanema, junta.

Já podemos dizer que começou 2018.



Conversa Afiada

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