segunda-feira, 12 de março de 2018

O Brasil perdeu várias batalhas, mas a guerra não acabou, por Evilazio Gonzaga

SEG, 12/03/2018 - 08:31


O Brasil perdeu várias batalhas, mas a guerra não acabou

por Evilazio Gonzaga

O Brasil foi atacado em uma Guerra Híbrida e sofreu sérias derrotas.
Guerra Híbrida é uma estratégia que mescla táticas de guerra política, ciberguerra, outros métodos de influência, tais como fake news, diplomacia e intervenção eleitoral externa.

No processo, os atacantes; principalmente os EUA, o sistema financeiro de Wall Street e as multinacionais do petróleo; se aliaram aos ricos brasileiros, especialmente os banqueiros, rentistas e agiotas. Esse núcleo, dos muito ricos brasileiros, acionou as instituições do estado brasileiro e a mídia corporativa, que controlam desde sempre, para demolir a democracia no país, através da doutrina do Choque e Terror, bem definida pela pesquisadora canadense Naomi Klein.

Um dos objetivos da Guerra Híbrida movida contra o país é a desarticulação da economia nacional, para solapar a capacidade competitiva do país na arena internacional.

Esse é um dos motivos pelos quais as grandes empreiteiras brasileiras estão sendo praticamente extintas. A construção civil era provavelmente o único setor industrial no qual o país exercia clara liderança mundial e, através de suas empreiteiras, desenvolvia ações de geopolítica - fazendo um jogo que todas as multinacionais fazem.

Os ataques à cadeia produtiva do petróleo, à indústria tecnológica - não é só a Embraer, pois todas as empresas mais eficientes, ligadas ao parque aero-espacial brasileiro, estão sendo assediadas para se transferirem para os EUA ou Israel - às empresas de produção de proteína animal (outro setor liderado pelo Brasil), e a diversos ramos econômicos comprovam que a economia brasileira está sendo rapidamente desmontada.

O processo tem reflexos no setor militar, o que ligou o sinal amarelo na Suécia, detentora da tecnologia dos Gripens, coloca em dúvida o futuro do submarino nuclear e interrompe o desenvolvimento de blindados nacionais, entre vários outros programas. Isso ocorre paralelamente à utilização das forças armadas como polícia de segurança interna, o que retira os militares de sua função constitucional.

Provavelmente as lideranças militares não estão protestando contra o virtual desmantelamento de suas forças, porque desde a Segunda Guerra, a oficialidade brasileira é adestrada nas escolas militares estadunidenses, onde são condicionados a aceitar a liderança mundial estadunidense como natural.

Um processo semelhante ocorreu com o judiciário, o MP e a polícia federal, para viabilizar a Guerra Híbrida. Já as lideranças politicas, que hoje ocupam o parlamento é o executivo foram simplesmente compradas.

Porém, se o Brasil perdeu batalhas muito importantes, a derrota não é como foi a da Alemanha, na Segunda Guerra Mundial, de terra arrasada.

Aqui sobreviveram núcleos de resistência, em alguns governos de estado, nos movimentos sociais organizados, nos mandatos parlamentares populares, nos blogs e portais independentes, nos meios intelectuais, nos partidos progressistas e no seio de uma parcela considerável da população.

A partir desses núcleos, a consciência de que houve golpe, com forte influência estrangeira, cresceu, sendo hegemônica na universidade, onde intelectuais produzem a tradução da realidade; e é amplamente majoritária na população, como revelam inclusive as pesquisas de institutos que apoiam o golpe, como a Datafolha, o IBOPE é o Ipsos.

Há, desta forma, uma poderosa base de resistência, que poderá não ser suficiente para obter uma vitória definitiva agora, em curto prazo, mas que poderá ter capacidade de obter pequenos, porém importantes sucessos e preparar para uma virada do jogo no futuro.

Nesse quadro algumas questões parecem ser bastante relevantes.

A primeira é manter o jogo institucional, não com esperança de vitória, pois as instituições estão dominadas pelo golpe. O objetivo sera denunciar e desmoralizar o golpe, para aumentar o apoio popular e internacional à luta pela reconquista da democracia no Brasil. Isso significa defender Lula no arremedo de justiça que há no país e disputar as próximas eleições, transformando-as em palanque de denúncias.

Outra tarefa é defender e aproximar os núcleos de residência, que sobrevivem ao golpe sob duríssimos ataques, como os governos estaduais progressistas, os movimentos sociais, os mandatos parlamentares progressistas, a universidade pública, a mídia livre da blogosfera, etc. Se esses setores entrarem em conflitos entre si, a guerra acaba, com a vitória definitiva do golpe. Ao contrário, se eles se aproximam, para defenderem-se e fortalecerem-se mutuamente, será formada uma poderosa base de combate ao golpe e a possibilidade de vitória fica mais próxima.

Finalmente, a batalha na universidade é fundamental, pois como teoriza Jessé de Sousa, são os intelectuais que produzem a ideologia, ou seja a tradução do mundo e da realidade. A mídia, seja qual for ela, não cria a tradução da realidade, mas apenas reproduz e propaga o que foi estabelecido pelos intelectuais. Por exemplo, o tal pensamento único do neoliberalismo foi um conceito criado nas universidades estadunidenses, principalmente Chicago, que depois foi disseminado pelo mundo através da mídia e do aparelho de dominação cultural dos EUA e do sistema financeiro centralizado em Wall Street.

Portanto, não se trata apenas de defender a universidade pública, mas de transformá-las em um campo de batalha das ideias, para produzir ideologia e formar as novas gerações, que irão ocupar no futuro as instituições, como o judiciário, o MP, a polícia federal, as estatais, os órgãos do executivo, as redações, etc.

Combinando essas três necessidades estratégicas - participar do jogo institucional, para desmoralizar o golpe e ocupar espaços; defender e aproximar os núcleos de residência, a fim de fortalecer a oposição ao golpe; e travar a batalha das ideias em todos os espaços, principalmente nas universidades - poderá ser estabelecido uma poderosa base, não só para derrotar o golpe, como também capaz de fazer avançar o estágio de democracia, justiça social e civilização no Brasil.

Finalmente, a rua é fundamental. Entretanto, o momento parece ser de redefinição de estratégias, reorganização e acumulação de forças. Colocando em movimento essas três ações táticas, a rua terá força muito maior.



Jornal GGN

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