segunda-feira, 16 de abril de 2018

Preste atenção neste nome: Álvaro Dias. Ele é o candidato da Lava Jato e da Globo. Por Joaquim de Carvalho


- 15 de abril de 2018


O Estado de S. Paulo publicou em 18 de março uma notinha sobre Álvaro Dias:

A campanha presidencial do senador Álvaro Dias (Podemos-PR) garantiu um palanque regional expressivo.

Na noite de sábado, Dias participou do lançamento da candidatura do senador e ex-craque da seleção brasileira Romário ao governo do Rio. Dias foi um dos responsáveis por atrair Romário para o partido.

Quem é Álvaro Dias na fila do pão?

Na última pesquisa do Datafolha, ele aparece com 3% das intenções de voto. Mas a atenção que recebe de alguns veículos de comunicação não é própria de um nanico.

O mesmo jornal lhe deu uma página para uma entrevista em que falou sobre planos de governo, e se defendeu da suspeita de sua ligação com o empreiteiro Joel Malucelli, o bilionário envolvido na Lava Jato que é seu suplente no Senado.

Ao mesmo tempo, a Globo também lhe abre espaço.

Em setembro do ano passado, em uma excêntrica participação no programa de Galvão Bueno na Sportv, Romário teve espaço para falar da sua candidatura a governador do Rio e para fazer propaganda de Álvaro Dias.

O ex-arbitro Arnaldo César Coelho, dono de uma filiada da Globo, força o assunto.

“Seu partido tem candidato até para presidente, não é?”

“Sim”, responde Romário.

“Quem é?”, insiste o ex-árbitro.

O diálogo é tão natural quanto Arnaldo César Coelho arbitrar um jogo de polo aquático.

“É Álvaro Dias, votarei nele.”

Galvão Bueno comenta: Senador Álvaro Dias.

Outro participante ajuda:

“Que era do PSDB”.

Galvão Bueno continua:

“Historicamente do PSDB, ex-governador do Paraná, com tantos mandatos…”

Romário complementa:

“Sério, comprometido, conhecedor…”

Como numa tabelinha, Galvão Bueno diz:

“E ele é o candidato à presidência…”

Romário emenda:

“Do nosso partido, é pré-candidato hoje do Podemos…”

Um diálogo desse tipo num programa de esportes, sem anuência dos donos da Globo, resultaria em demissão, com certeza.

Mas nada disso aconteceu, e Galvão seguiu no bate-papo político. Não dominava o assunto, mas deu corda, e falou das qualidades de Romário.

A entrevista foi ar depois do encerramento da CPI do Futebol, em que Romário, presidente da comissão, inviabilizou a convocação de Marcelo Campos Pinto, que foi diretor da Globo e é acusado nos Estados Unidos de ser o intermediário no pagamento de propina para obter direitos transmissões de futebol para a emissora.

A participação de Romário no programa tem características de moeda de troca.

Mas, com os movimentos mais recentes de Álvaro Dias, parece que a jogada é ainda mais ambiciosa.

Não exclui a recompensa a Romário por blindar a Globo na CPI, mas levanta a bola também de Álvaro Dias.

E Álvaro Dias parece fazer um jogo estratégico.

Quando a lama da Lava Jato começou a respingar no PSDB, ele foi para outro partido, o PV. E do PV migrou para o Podemos, num curto espaço de tempo.

Fora do Paraná, Álvaro quase não tem voto, mas tem demonstrado força política, na esfera que é uma das mais poderosas do Brasil, a Lava Jato.

No ano passado, recebeu Rosângela Moro numa visita dela para fazer lobby para a APAE no Congresso. Comprometeu-se a apresentar um projeto de lei que beneficia a entidade, a pedido dela.

Mostrou que é bem relacionado com a força tarefa.

Essa relação, no entanto, é mais antiga.

Em depoimento na CPI da Petrobras, em 2015, o doleiro Alberto Yousseff — uma espécie de doleiro de estimação do juiz Sergio Moro — contou:

“Na época (1998), eu fiz campanha do senador Álvaro Dias e parte dessas horas voadas foram pagas pelo (Luiz Antônio) Paolicchi, que foi secretário da Fazenda da prefeitura de Maringá e parte foi mesmo doação que eu fiz das horas voadas”.

Paolicchi fez parte de uma quadrilha condenada por desviar recursos da prefeitura de Maringá, durante a gestão de Jairo Gianoto, afilhado de Álvaro Dias.

Paolicchi acabou assassinado em 2011, num crime em que o esposo, o jovem Vagner Ferreira Pio, assumiu a autoria e foi condenado.

O advogado Irivaldo Joaquim de Souza também foi acusado de participar do esquema de desvio de dinheiro público da prefeitura de Maringá, entre 1997 e 2000.

Mas ele foi solto e depois absolvido. Em sua defesa, o advogado Irivaldo contou com o depoimento de Sergio Moro, na época já juiz federal.

Moro foi estagiário no escritório do advogado e disse à Justiça, no depoimento que prestou como testemunha do antigo chefe:

“Já ao tempo do meu estágio, o Dr. Irivaldo era conhecido por seu conhecimento especializado de Direito Tributário e Empresarial, algo então bastante incomum na cidade de Maringá. Seu prestígio na área possibilitava que seu escritório centrasse seus serviços em causas de natureza tributária e empresarial, sendo poucas as ações de outra natureza”, disse, talvez para justificar o elevado patrimônio do tributarista.

Além do advogado, Moro tem outras amizades comuns com Álvaro Dias: Joel Malucelli, envolvido na Lava Jato, é uma delas.

Malucelli dividiu com Moro as atenções na festa de 10 anos de Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, em 2015.

Pode ser apenas coincidência — afinal, Curitiba não é uma cidade muito grande e as pessoas se encontram com mais facilidade —, mas Malucelli é mesmo do círculo próximo de Moro.

E não tem recebido da Lava Jato o mesmo tratamento ferrabrás que outros empresários acusados de corrupção.

O Ministério Público Federal acusa a empresa de Malucelli de pagar propina para participar da construção da usina Belo Monte, mas, nas medidas que Moro autorizou, não consta busca na casa do empresário, como aconteceu em outros casos similares.

Na operação que detonou Delfim Netto, acusado de receber propina de Malucelli, o juiz autorizou busca e apreensão nas salas de três das empresas de Malucelli e a busca de e-mails da diretora financeira, Georgete Soares Bender.

Por algo parecido, só que em escala maior, o presidente da Odebrecht, Marcelo, passou uma temporada na cadeia e cumpre agora pena em casa, sem poder sair. E sofreu pessoalmente uma devassa.

A Lava Jato em Curitiba também poupa o aliado de Malucelli, Álvaro.

No depoimento que prestou a Moro, o responsável pelo sistemas de informática da Odebrecht, Paulo Sérgio da Rocha Soares, garantiu a Moro que não adulterou os registros do Drousys e do My Web Day.

“O senhor chegou a adulterar esse sistema Drousys, banco? Enfim, o senhor fez alguma adulteração?”, pergunta o juiz.

Paulo Sérgio responde:

“Absolutamente nenhuma, excelência. Esse sistema, como eu expliquei à senhora que fez a pergunta (procuradora da república), tinha um dispositivo de segurança que qualquer acesso às informações ficaria registrado. E qualquer acesso que pode ter havido às informações está registrado ainda hoje no sistema.”

Moro continua:

“Depois que começaram essas investigações da Operação Lava Jato, o senhor não fez nenhuma adulteração então?”

Paulo Sérgio:

“Absolutamente nenhuma. Eu não tinha acessos a informações para fazer adulteração e não tinha interesse também.”

Moro, por fim, indaga:

“Eu sei que o senhor está como testemunha aqui, mas eu preciso perguntar isso: alguém lhe solicitou que o senhor fizesse alguma adulteração e o senhor tenha recusado?”

Paulo Sérgio responde:

“Nunca ninguém pediu que fizesse nenhuma adulteração, ninguém.”

Agora já se sabe que Rocha Soares, irmão de um diretor da Odebrechet, mentiu. Ele disse que o doleiro Samir Assad era cadastrado no Drousys da empresa, mas nunca tinha usado o e-mail.

Mas não é isso que mostra o inquérito 186/16 da Polícia Federal, que apresenta um e-mail do doleiro enviado através do sistema da Odebrecht relatando valores pagos a Álvaro Dias.

Esta descoberta não é recente, mas, por citar Álvaro Dias, o inquérito deveria ser remetido ao Supremo Tribunal Federal em Brasília, mas continua na Polícia Federal.

Enquanto não se torna processo, Álvaro Dias poderá se apresentar como um dos poucos políticos que não foi atingido pela Lava Jato.

É mentira, mas quem vai desmenti-lo? Os procuradores de Curitiba? Sergio Moro?

Nos bastidores, a desenvoltura de Álvaro Dias já despertou a suspeita de que, na verdade, o senador não tem apenas a simpatia dos lavajateiros.

Ele seria o candidato dessa turma.

“O próximo presidente, seja lá quem for, terá que impor limites à Lava Jato, se não não governa. E o pessoal da Lava Jato sabe disso. O poder deles, portanto, está com os dias contados, a menos que o vencedor das eleições seja um candidato deles, e esse candidato, ao que tudo indica, é o Álvaro”, disse um experiente político que, para não sofrer perseguição, pede para ficar no anonimato.

Com Lula interditado, como quer a Lava Jato, todos os demais candidatos são nanicos, e é nessa brecha que Álvaro veria sua chance.

Para isso, com alguns grandes veículos de comunicação fechados em torno dele, poderia subir nas pesquisas.

Mas os grandes veículos sem a aliança com Lava Jato perdem força. Nessa estratégia, a Lava Jato detonaria adversários de Álvaro, com os vazamentos seletivos.

Seria coincidência a capa desta semana da revista Época, do grupo Globo, que detona o operador de Geraldo Alckmin, Adhemar Cesar Ribeiro, cunhado dele?

“Não creio”, diz o experiente político.

É parte da estratégia para turbinar Álvaro Dias.

Se a Lava Jato participa dessa estratégia, não é exagero dizer que os procuradores e juízes protagonistas da operação se tornaram um partido político.

O Podemos é só uma legenda.



Diário do Centro do Mundo   -   DCM

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